Óbvio que os 13,1 milhões de desocupados não podem ser debitados na conta do presidente Jair Bolsonaro. Nem na campanha o então candidato do PSL prometeu qualquer programa de criação de empregos. Pelo ideário liberal do superministro da Economia, Paulo Guedes, os postos de trabalho — mesmo que com menos direitos — viriam ao natural, via contratação do setor privado, graças a um ambiente mais favorável aos negócios, melhora da confiança, volta dos investimentos e prenúncio de início da solução do problema fiscal do Brasil com a reforma da Previdência.
Mas, por enquanto, o clima está longe de melhorar. E boa parte do mal-estar vem da condução errática do governo. Se Bolsonaro não se mostra disposto a assumir a linha de frente pela Nova Previdência, seria razoável ao menos pensar em parar de tensionar a relação com o Congresso e de criar polêmicas inúteis. Sem atrapalhar, já ajuda.
Tumultuar ainda mais não vai diminuir o desemprego. Pelo contrário. Conflagrações não abalam apenas o abstrato — para o cidadão comum — mercado financeiro. Novos conflitos vão acentuar o atraso nas reformas e adicionar mais lentidão na retomada atividade — inclusive com o risco de ser abortada. Certamente boa parte dos desocupados, desiludidos com o quadro letárgico do país, votou em Bolsonaro na esperança de que o novo presidente recolocasse a economia nos trilhos. E não por temas secundários como porte de armas e troca de embaixada de Israel. São essas 13,1 milhões de pessoas, contingente maior do que a população do Rio Grande do Sul, as que mais esperam responsabilidade do presidente.