Dezesseis dias depois da segunda tragédia envolvendo barragens de resíduos de uma das maiores mineradoras do mundo, o Brasil segue em suspense sobre o tamanho do risco. Depois de Brumadinho, agora em Barão de Cocais (MG). Moradores foram retirados do entorno e neste domingo (10) foi realizada uma inspeção especial, cujos resultados ainda não são conhecidos.
É quase inacreditável. Enquanto o mundo evolui para formas mais responsáveis de exploração de recursos naturais, o Brasil parece empacado no capítulo 1 da revolução industrial, de modelo predatório ambiental
e humano, quando o foco atual é a versão 4.0 –
ao menos em tese.
Todas as revelações posteriores à tragédia de Brumadinho – já inadmissível, depois do desastre de Mariana –, apontam para negligência da Vale ante riscos, na melhor das hipóteses. Os e-mails que apontavam falhas no sistema de alarmes, em qualquer empresa, deveriam ter acionado planos de contingência. Em uma companhia com antecedentes, caso da Vale, exigiriam medidas urgentes.
Aos poucos, ficamos sabendo de outros alertas ignorados. Houve laudos advertindo para o perigo de fazer explosões e usar veículos muito pesados na expansão das atividades das minas relacionadas a Brumadinho.
Após o caso de Mariana, a Vale deveria ter virado a chave. Sócia da anglo-australiana BHP Billiton na Samarco, dona da barragem do Fundão, que estourou em novembro de 2015, espalhando 62 bilhões de litros de rejeitos de mineração no Rio Doce, deveria ter aprendido a lição. Não bastou ter criado a Fundação Renova, que deveria ter respondido pela recuperação de Mariana e outras cidades ao longo do Rio Doce afetadas pela lama tóxica. Deveria ter adotado, em seguida, todas as providências para que o eco de Mariana nunca mais fosse ouvido.
Na Austrália e no Reino Unido, a BHP enfrenta ações legais. No Brasil, as empresas assinaram acordo extrajudicial de R$ 20 bilhões. Terá sido o melhor caminho? A julgar pelo efeito pedagógico, não. Ao ignorar e-mails de alerta, laudos desfavoráveis e tentar justificar a falha no sistema de alerta, a Vale mostra que empacou no modelo de indústria predatória, que não se importa com as consequências de suas escolhas. Precisa abandonar esse modelo. Regras de boa governança não servem só para preencher relatórios e cumprir regras. Existem para ajudar a evitar perdas de vidas – aos poucos ou de uma só vez – e comprometimento ambiental.