O termômetro do humor do mercado já não vinha bem, ontem, quando chegou a notícia do diagnóstico de pneumonia do presidente Jair Bolsonaro, além da necessidade de que fique hospitalizado por mais cinco a sete dias. O gráfico da bolsa desenhou um "U". O Ibovespa, que trafegava em 94 mil pontos, caiu a 93 mil. Operadores mais experientes lembraram do episódio de Tancredo Neves, em 1985, mas houve correção no exagero. A bolsa fechou ainda no negativo, a 0,24%, mas recuperou o patamar anterior, com 94.405 pontos.
– Houve, de fato, impacto da informação sobre pneumonia, o mercado se inquieta porque o presidente está demorando a sair do hospital. Mas não dá para comparar com o caso de Tancredo – avalia André Perfeito, economista-chefe da Necton, empresa que resultou da fusão das corretoras Spinelli e Concórdia.
Perfeito ponderou, ainda, que o dia no mercado financeiro foi ruim em quase todas as latitudes, e diante do recente comportamento otimista no Brasil, outras doses de correção podem estar a caminho.
A jornada de alta volatilidade na bolsa, com muito sobe-e-desce, chegou a ser interrompida no meio da tarde, quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que seria possível aprovar a reforma da Previdência até maio, pelos deputados, e até junho, pelo Senado. Com a "demora em sair do hospital" de Bolsonaro, afirma Perfeito, essa perspectiva fica ameaçada.
– O ministro da Economia, Paulo Guedes, já disse que Bolsonaro vai decidir qual será o modelo de reforma que vai ao Congresso, quando sair do hospital. Então, há uma dependência muito forte entre essa perspectiva e o estado de saúde do presidente – ponderou.
Perfeito considera excessivamente otimista a projeção de investidores e especuladores de que a reforma possa ser aprovada rapidamente:
– Não vai. É um assunto complexo e polêmico, por mais que tenha ganho apoio.
Parte da polêmica foi reduzida ontem por Guedes, ao dizer que a reforma não tratará de temas trabalhistas, como chegou a ser divulgado. Segue o suspense.