Estava mapeado entre os principais riscos para 2019, mas a probabilidade era considerada baixa. A rejeição do acordo de saída gradual do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit, adiciona uma incerteza não totalmente incluída nos cálculos de um ano já marcado pelas dúvidas. Entre as preocupações com a desaceleração da China, o futuro das empresas de alta tecnologia nos Estados Unidos e a briga entre Donald Trump e boa parte do planeta – da distante China ao vizinho México –, o cardápio de ameaças foi reforçado.
Não existe mais mapa do caminho. Se os britânicos não vão pagar à União Europeia a multa de 50 bilhões de euros prevista no acordo, também não haverá o período de transição, que previa um desligamento em fases, em prazo que se estenderia até 31 de dezembro de 2020. Antes da votação, a advertência era de que, em caso de rejeição, o pais e o bloco entrariam em “território desconhecido”.
O objetivo do acordo era justamente dar roteiro a um fato sem precedentes – o divórcio entre um país e seus sócios, com impacto desde a organização empresarial até a vida de casais que atravessavam o Canal da Mancha quase como se fosse o Guaíba.
Esse adicional de indefinição exacerba as características em que a economia global vem operando nos anos recentes, a VUCA — as iniciais em inglês de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. A saída sem mapa do Brexit fornece aditivo aos tremores que se intensificaram no final do ano passado e derrubaram as ações das gigantes de tecnologia, até há pouco inabaláveis.
O fato de o Brasil não estar na Europa não livra o país das réplicas do terremoto político ocorrido nesta terça-feira (15) em Londres. O desfecho inesperado pode ser um sinal de alerta para o novo governo, de que por mais claras que sejam as vantagens de determinado plano, é preciso assegurar sua aprovação.