Motivo de temor durante toda a campanha eleitoral, o primeiro bate-cabeça entre o discurso liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, e as práticas de Jair Bolsonaro ocorreu no terceiro dia útil do novo governo. Pela manhã, o presidente deu entrevista confirmando aumento na alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Seria a única forma de dar espaço no orçamento para a renovação de renúncia fiscal para os Estados do Norte e do Nordeste, que abriria um rombo não previsto ao redor de R$ 3 bilhões.
– Fui obrigado – justificou.
Como uma espécie de compensação, Bolsonaro mencionou o estudo da redução da alíquota do Imposto de Renda (IR) para pessoa física, de 27,5% para 25%. Houve entendimento de que seria um anúncio para logo. Caso a elevação no IOF fosse confirmada, a estreia na prática do novo governo se daria não só com mais subsídios como também com aumento de impostos. Não por acaso, dois tópicos espancados no discurso de Guedes ao assumir o cargo.
Foi preciso mobilizar a tropa do deixa-disso. Primeiro, foi tarefa do secretário da Receita, Marcos Cintra, que desmentiu tanto o aumento do IOF quanto a redução do IR. Na versão de Cintra, Bolsonaro teria feito "confusão". Mais tarde, foi a vez de o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, convocar entrevista para confirmar o que chamou de "equívoco" do presidente.
Como Cintra deixou claro, existe estudo de mudanças de impostos, IR incluído, mas a reforma tributária será apresentada "posteriormente, no tempo correto". Na equipe econômica, há uma combinação: como a reforma da Previdência é o primeiro e maior desafio, seria preciso concentrar todo capital político do governo para sua aprovação – e evitar sua erosão com debates improdutivos. Parece ter faltado combinar com o chefe.
Além de desgastar o Planalto, Bolsonaro causou confusão. Acabou, anda que involuntariamente, espalhando fake news. Onyx sugeriu, até, que as idades mínimas recitadas por Bolsonaro para a reforma da Previdência, podem não ser exatas. Havia custado uma acusação de Kim Kataguiri cheia de humor involuntário, de que teria cedido a "cedendo à pressão esquerdista".