Foi contraproducente o excesso de euforia de representantes do governo federal às vésperas do primeiro leilão aberto para exploração no pré-sal. Ao projetar receita de R$ 7,75 bilhões e arrecadar R$ 6,15 bilhões, gerou sensação de “perda”, apesar de a arrecadação projetada ser dinheiro sério em qualquer escala.
A liminar da Justiça Federal contra o leilão obtida na noite de quinta-feira também não ajudou. Com legislação recém-modificada, que liberava grupos estrangeiros a arrematar áreas sem o controle da Petrobras, o mergulho no ainda desconhecido universo do pré-sal brasileiro embutia um certo nível de risco que, literalmente, aumentou do dia para a noite.
O anúncio do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), às vésperas das duas rodadas da sexta-feira, de que o Brasil quer rever o modelo de partilha, foi outro elemento desencorajador. Em cenário de consumo e preços estáveis, sem pressão de demanda, grandes petroleiras podem esperar mais um pouquinho para verificar se Maia blefa ou tem capacidade real de enterrar o regime de partilha, que vigora no Brasil apenas para as áreas de pré-sal.
Além da maior complexidade, as regras têm a característica de não dar ao explorador a propriedade do óleo ou gás extraído, mantida pela União. Das seis áreas arrematadas, apenas uma carimbou o aspecto histórico do leilão: a anglo-holandesa Shell e a francesa Total declararam independência da Petrobras para arrematar a área com o curioso nome de Sul de Gato do Mato. Ainda assim, é uma autonomia relativa. A Total tem abrangente acordo de parceria com a estatal brasileira. A oferta histórica não foi nem o sucesso estrondoso prenunciado pelo governo nem o fracasso total que poderia ter decorrido do impasse judicial.