Em 2013, quando foi confirmada a encomenda dos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), e a solução incluía desenvolvimento de peças e equipamentos no Brasil, houve grande ceticismo. Nesta sexta-feira (15), a AEL Sistemas, instalada na Avenida Sertório, em Porto Alegre, entregou à sueca Saab, fabricante dos aviões, o segundo protótipo da tela concebida e desenvolvida aqui mesmo no Estado. "Tela", no caso, é uma tentativa de simplificar o que é o Wide Area Display (WAD), responsável pela interface entre os pilotos e os caças de última geração (foto abaixo).
As informações que antes ficavam dispersas em três telas e outros mostradores no painel serão concentradas em um único monitor de alta definição, sensível ao toque com infravermelho, para que o piloto não precise tirar as luvas de proteção. A entrega do chamado "modelo B" – não é uma alternativa, mas uma evolução do A, entregue no ano passado, ainda sem semelhança com o produto final – é uma etapa importante do projeto porque vai permitir o desenvolvimento, na Suécia, dos softwares de conexão com as aeronaves.
– Toda a tecnologia empregada é da AEL – frisou Sérgio Horta, presidente da empresa.
Leia mais
AEL entrega primeiro protótipo que vai equipar caça sueco
Novos caças da FAB terão telas feitas no Rio Grande do Sul
Parceria com suecos vai beneficiar empresas brasileiras em 2015
Mas o maior "atestado de competência" – como caracterizou depois Horta –, veio de Mikael Franzén, chefe da unidade Gripen Brasil na área de negócios aeronáuticos da Saab. Ao se dirigir em inglês à pequena plateia que acompanhou a cerimônia de entrega, Franzén destacou duas vezes a entrega "on time" (no prazo) da AEL. Perguntado pela coluna se todo o projeto está "on time", o executivo sueco disse que "a maior parte" está. Ou seja, nem todos estão cumprindo o cronograma com tanto rigor.
Franzén também relatou que o projeto da tela única foi um pedido da FAB à Saab. Era tão complexo que até a sueca hesitou. O WAD vai equipar cabines de aviões com alta vibração – alcançam o dobro da velocidade do som (cerca de 2,4 mil km/h) – e pressão equivalente a nove vezes a força da gravidade (9G). O risco de que o vidro deformasse ou surgisse outro tipo de problema era enorme.
– Normalmente, quando se projeta uma cabine de caça, o que se busca é encolher todos os equipamentos. Então, não havia tecnologia disponível. Esse é um dos primeiros displays deste tamanho – destacou o executivo sueco.
O novo protótipo ainda não está habilitado para voar. Não é que precise brevê, mas ainda depende da conexão com os softwares da Saab. Segundo Horta, o modelo C, que poderá decolar, deve ser entregue em 2018. A empresa de Porto Alegre venceu uma concorrência internacional para o fornecimento do WAD em 2015.
O primeiro modelo do Gripen E fez seu voo inaugural em junho. Ainda também é um protótipo. Um caça para testes iniciais da Aeronáutica será entregue em 2019. A AEL é uma empresa controlada pela Elbit, com sede em Haifa, em Israel, país conhecido pelo desenvolvido e funcional ecossistema de empreendedorismo com foco em tecnologia. Não por acaso, é o berço do Waze, entre outros aplicativos, sistemas e softwares de uso mundial. O que permitiu esse avanço, no país, foi o foco na indústria de defesa, que se repete no caso da encomenda da Saab para a AEL.