Um dos principais motivos para a resistência do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, à revisão da meta fiscal era não reeditar o comportamento do governo Dilma Rousseff em 2015. Quando ficou claro que o então ministro Joaquim Levy não entregaria o ajuste fiscal necessário, Dilma enviou ao Congresso uma revisão de última hora que acabou aprofundando a erosão de sua credibilidade.
Agora, diante do que parece ser uma inevitável ampliação do buraco em que as contas públicas federais estão mergulhadas, a equipe econômica tenta polir o discurso de que, desta vez, trata-se de outra solução. Na prática, é exatamente a mesma coisa.
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O possível descumprimento do limite de R$ 139 bilhões no rombo do orçamento – sem considerar o pagamento do juros da dívida – é discutido abertamente há meses por especialistas. Só agora começa a ter dimensão estimada – ao menos R$ 20 bilhões a mais –, com os consequentes ensaios de justificativa. Seria para evitar um "shutdown" como o de outubro de 2013 nos EUA, com interrupção de serviços públicos essenciais. Isso, depois que a falta de recursos chegou a suspender a emissão de passaportes. Ou seja, já houve.
A discussão se torna pública quando o governo abre a torneira de "bondades" para garantir a rejeição do pedido para prosseguimento da investigação sobre Michel Temer. As estimativas sobre o custo de emendas parlamentares liberadas para garantir apoio variam entre R$ 1 bilhão e R$ 15 bilhões – quase o equivalente ao que está proposto como alçapão do buraco.
Além de não querer se equiparar ao "fracassado" Levy, Meirelles sabe que o momento ainda é delicado para o Brasil rever compromissos, especialmente aos olhos dos investidores internacionais. Outra tentativa de justificar a ampliação do buraco nas finanças públicas é atribuir a necessidade de permissão para entregar uma profundidade maior à frustração com a receita, não à incapacidade de fazer ajuste.
Não é bem assim. A possibilidade de aprovar a reforma da Previdência, por exemplo, foi minada pela delação da JBS. A fragilidade do presidente Temer comprometeu a entrega. Haveria alternativa se o governo de fato se comprometesse com gestão racional. Agora, a prioridade é a sobrevivência, incompatível com medidas que arranhem privilégios ou afetem a manutenção de uma equipe que deveria ser outra coisa.