Não se pode dizer que quatro meses consecutivos de resultados positivos entre contratações e demissões com carteira assinada no Brasil configurem melhora decisiva no mercado de trabalho. Os sinais ainda são fracos e pouco consistentes. Mas em um país que acumulava anos de resultados negativos nessa área, quatro meses de trégua fazem uma grande diferença. Se não na vida real, que continua difícil, como poucas oportunidades concretas, ao menos para efeito psicológico.
Mesmo que o saldo positivo ainda seja pequeno – no acumulado, são pouco mais de 130 mil vagas acrescentadas em todo o país –, um dos melhores sinais emitidos pelo dado vem no detalhe. O coordenador-geral de estatísticas do Ministério do Trabalho, Mario Magalhães, destacou que a geração de empregos está mais disseminada entre os setores. Antes, ficava restrita ao setor agropecuário – que salvou a lavoura do primeiro trimestre no Produto Interno Bruto (PIB), com mais empregos temporários.
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Agora, as contratações avançam na indústria, no comércio e nos serviços. Em julho, foram as fábricas que mais demandaram mão de obra formal, conforme os dados do Caged. Esse é exatamente o setor com vagas mais estáveis e qualificadas. Dos 12 subsetores incluídos no levantamento, nove tiveram mais criação de empregos do que fechamento de vagas.
É preciso destacar que, até agora, a melhora na contratação com carteira assinada não representa a recuperação substancial do mercado de trabalho que permite perspectivas de aumento de consumo, de produção e de efetiva recuperação da economia. Mas esse momento ficou mais próximo. Pode não ter força que permita projetar ausência de risco de reversão, como anuncia o Ministério do Trabalho, fiel a seu papel de exalar otimismo. Depois do sonho desfeito de recuperação ainda no ano passado, é bom manter cautela. E, ao mesmo tempo, reconhecer que as perspectivas mudaram, e para melhor.