Longe da redação*, acompanhava a comoção com a morte de Paulo Sant'Ana, lamentando não estar presente na despedida. Recebia, pouco depois, a consulta sobre a possibilidade de escrever sobre esse personagem tão marcante, que, sem ter foco em economia, sabia bem que o órgão mais sensível do corpo humano era o bolso.
Um golpe no bolso, ensinava Sant'Ana com suas incursões sobre preço dos combustíveis, por exemplo, poderia ser tão poderoso quanto um baque no ego – essa sim, sua especialidade. Tanto, que tinha ao menos dois – Paulo e Pablo –, sem contar outros de que só ouvi falar, mas nunca presenciei.
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Era a maneira que ele tinha de conviver com tanta intensidade em uma só pessoa. Um só era pouco para ele. E também de conciliar suas fases expansivas, em que nos cobria de pautas, comentários e gracejos, com os períodos introspectivos, nos quais era capaz de ignorar até um cumprimento caloroso.
E Paulo, Pablo e toda sua legião de personas se foram às vésperas de um aumento de impostos de um governo com déficit no orçamento e na legitimidade. Se estivesse na ativa, Sant'Ana se insurgiria com um texto virulento. Se um aumento de impostos dói no bolso, feito nas atuais circunstâncias dói na alma.
A despedida pessoal não pôde ser.
Mas, a caminho de um café para enviar esse texto, deparei com uma frase em um cartaz: "Fue, es y será un placer haber coincidido contigo en esta vida". É verdade. Adiós, Pablo.
*A colunista Marta Sfredo está em férias