Um dos convidados da FBV – Feira Brasileira de Varejo, que começa na quarta-feira, será Ricardo Rinkevicius, presidente da Starbucks Brasil. Com um avô cafeicultor, conta que toma entre 15 e 20 cafés por dia, todos da marca que administra. E só se exalta quando indagado sobre críticas à qualidade da principal bebida da maior rede de cafeterias do planeta.
– Quando tomo um Brasil Blend, sinto o aroma e o sabor do café da fazenda – diz, apelando à memória olfativa.
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Por que a Starbucks tomou a decisão de triplicar suas lojas no Brasil ainda em meio à recessão?
Essa matéria foi um problema de compreensão, eu falei uma coisa e eles interpretaram outra. Preferia não comentar esse assunto.
O que a gente pode dizer sobre planos de expansão aqui no Brasil?
Que a gente vai continuar crescendo.
Nos chamou atenção que a expansão teria foco em BH, Brasília e Curitiba.
Não, a ideia do Starbucks é estar no Brasil inteiro, mas, por enquanto, não tem planos para sair de São Paulo e Rio de Janeiro. A gente pensa em sair, mas não não pode divulgar quando.
Muita gente gostaria que tivesse um Starbucks aqui no RS. Toda vez que publicamos algo relacionado à marca, nos questionam sobre quando chega a Porto Alegre.
No Facebook da Starbucks tem direto, várias pessoas perguntando, então é complicado. A gente precisa seguir um planejamento, tem algumas coisas que não podemos divulgar, mas em alguns anos estaremos presentes no Brasil inteiro. Não dá para dizer em quantos anos. Não temos nada contra Porto Alegre. Normalmente, quando a gente entra no mercado, constrói lojas até onde acha que o mercado suporta. Então não adianta ficar abrindo muito o leque, quando você ainda tem um poder de concentrar bastante o número de mercado, que é o caso de Rio e São Paulo. Não quer investir? A gente quer. Nossa operação, vendo de fora, é simples, mas é muito complicada. Historicamente, temos um modelo em que o Starbucks sempre chega a uma região, cidade ou área, abre um número grande de lojas, aí passa para outra loja, e como a gente ainda acha que tem um mercado em SP e RJ, não pretende sair.
Como é o processo para adaptar o cardápio ao 'gosto brasileiro', como inclusão de pão de queijo, pão na chapa e bebida sabor brigadeiro? A rede deve ter parâmetros globais bem importantes.
É importante dizer que o Starbucks é uma marca global com serviço local, ou seja, a gente tenta se aproximar ao máximo do consumidor, não só no Brasil, mas em qualquer outro mercado que a gente esteja. A adaptação é um valor para a rede. Se você for na Argentina, tem alguns itens que são clássicos naquele país, como é o nosso pão na chapa, que é uma coisa que não pode faltar, pelo menos no eixo Rio-São Paulo. Em outros mercados também, sempre tem algo a adaptar.
A Starbucks tem experiências do Brasil à China. Quais as peculiaridades do Brasil que chamam mais atenção da gestão global, no que diz respeito à burocracia?
A gente sabe que essas coisas são dificultadores. Não sei como é na China, mas no Brasil é muito difícil. A gente sabe, isso realmente emperra, mas é uma coisa que, já que está no mercado, tem que lidar da melhor maneira possível.
No mês passado, como a empresa lidou com resultados que apontaram coliformes fecais em seus produtos?
Não foi só a Starbucks. Pelo que eu entendi, foram todas as redes de cafeteria da Inglaterra. O Starbucks foi superado na resposta, foi o primeiro a resolver o problema. Acho que o problema era a água de Londres. Realmente não vi, não foquei muito nisso, mas sei que foi um problema global que aparece o Starbucks, mas no Brasil não houve. Aqui posso te afirmar que é zero a possibilidade de ter.
As lojas da Starbucks são todas próprias? Isso vale para o Brasil e todo o mundo?
Todas próprias, não tem licenciado, não tem franqueado. A ideia é garantir qualidade, o serviço, ambiente, afinal de contas nós estamos em terceiro lugar, temos que garantir isso para o mundo inteiro.
Terceiro lugar em faturamento?
Não, é que em primeiro lugar vem a casa, depois o trabalho, e em terceiro o Starbucks.
E falando em ranking, como a Starbucks está diante dos seus concorrentes?
No Brasil, é difícil você falar em ter concorrente, porque modelo como o nosso, tem muito pouco. Alguns copiaram o modelo, mas são poucas lojas. Nossos concorrentes mesmo são as padarias.
O modelo da Starbucks, muito baseado do 'ambiente', que tem o wi-fi como um de seus maiores apelos, é ameaçado, de alguma forma, pela disseminação do alcance do acesso à internet?
Normalmente o pessoal vê o Starbucks como refúgio. Eu mesmo, quando estou viajando, entro em uma loja do Starbucks para usar a internet. Não vejo problema nenhum. Temos muitos outros atrativos além da internet. Temos um ambiente seguro, super agradável, com ar condicionado, uma equipe superreceptiva que faz uma conexão com os clientes muito boa, então não é só o wi-fi. Esse é só um deles. Os produtos são fantásticos.
Há alguma preocupação com os críticos da Starbucks, que consideram seus cafés muito descaracterizados? Aliás, vi que o modelo de negócios da Starbucks estaria mudando, mais interessado na questão de alimentos. Isso procede?
Não (há preocupação). A Starbucks é uma cafeteria líder mundial, temos nossa autoridade de café, e não entendo quando um crítico fala que somos descaracterizados. Meu avô era cafeicultor e, quando tomo um Brasil Blend, retrata perfeitamente o sabor e o cheiro de quando eu era pequeno e meu avô estava fazendo café na fazenda. Descaracterizado? Acho que é um pouco de não conhecimento das pessoas que estão falando. Hoje você vai no Starbucks e senta para tomar um café Sumatra, você tem café da Etiópia, então a gente tem vários blends diferentes. Não vejo de onde é descaracterizado, principalmente quando se tem o Brasil Blend, que é um café brasileiro, feito no Brasil. Em todas as pesquisas que a gente fez, é superbem aceito pelo consumidor. Posso te falar que, para mim, é o melhor café. Hoje, trabalho aficionado em café, trabalhei a minha vida inteira com café, tomo de 15 a 20 expressos por dia. E não tomo café fora do Starbucks. Tomo o dia inteiro. Então, quer dizer, acho que é falta de conhecimento das pessoas que criticam e conhecer o que tem de bom. O cara foi no Starbucks e tomou um Brasil Blend, mas às vezes dão um Sumatra pra ele, que tem um gosto totalmente diferente. Café hoje, você sabe que dependendo do clima, da altitude e da região onde é produzido... Os cafés da América Latina são muito cítricos, com gosto de chocolate e caramelo. Se você pegar da África, são florais e pouco cítricos. Na Ásia, são herbais, com sabor mais terroso. Então, cada café tem um sabor diferente. Se você chegar hoje no Starbucks, a gente tem uma degustação de café 24 horas. Fica à vontade do barista. Se você não falar 'quero o café x', ele faz o café que quiser, um Sumatra, um Quênia, um Etiópia, depende da vontade dele no dia. Falta o aprofundamento dos críticos verem que cada café tem seu sabor diferenciado, cada área mais ainda.
Qual é a visão de futuro da Starbucks, para Brasil e essa questão dos alimentos, que eu mencionei?
O Starbucks quer continuar com a cafeteria, esse é o foco do Starbucks. Tem mais oportunidade de vender comida porque, já que o cliente está lá... Vou dar um exemplo simples. Por que nós fizemos pão na chapa? Porque, às vezes, eu via que o cara trazia pão na chapa e vinha tomar café na nossa loja. A gente tem que oferecer mais opções de consumo na nossa loja. Isso vai muito ao encontro do que a matriz quer. E não vai descaracterizar nunca a empresa, que é de café, uma autoridade em café. É mais pensando no cliente do que no business. É lógico que não vamos colocar macarronada, nem hambúrguer. São opções leves, light, como a gente tem hoje.