Faltou só a terceira casa depois da vírgula, nesta quinta, para o dólar fechar abaixo de R$ 3,20. Assim como o nível de R$ 3,40 que começa a pressionar preços e reativar a inflação, uma cotação abaixo do patamar atual começa a inquietar exportadores. É uma barreira importante para o atual equilíbrio precário da economia brasileira que pode ser quebrada nos próximos dias.
As causas do mergulho cambial são internas – aprovação da reforma trabalhista, condenação do ex-presidente Lula – e externas. Ajudou o sinal de que os Estados Unidos vão levar mais tempo para retirar incentivos que regam a economia local e global, dado pelo Federal Reserve na quarta-feira. Conforme o mais recente índice Big Mac, da revista britânica The Economist, 31 das 34 moedas monitoradas se desvalorizaram ante o dólar dos EUA. Só franco suíço e as coroas norueguesa e sueca se fortaleceram.
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A comparação que leva em conta preços do sanduíche mais popular da rede de lanches para comparar poder de compra das moedas costuma apresentar o real entre as muito voláteis – cuja cotação mais varia com o tempo. Mas desta vez há surpresa: entre as 31 moedas desvalorizadas, o real tem o menor percentual, de 3,7%. A mais fragilizada é a hryvnia (a coluna jura que alinhou as letras direitinho) da Ucrânia, com defasagem de 25,92% em relação ao dólar dos EUA.
Esse baixo desalinhamento tem ajudado o Brasil a criar um oásis de indicadores positivos de longa duração, a balança comercial, que teve superávit recorde de US$ 7,195 bilhões em junho. Dada a quantidade de fatos novos – e negativos – que a política brasileira vem produzindo, não é possível excluir a hipótese de pressões de alta no horizonte cambial. Mas também não se descarta calmaria temporária com dólar abaixo de R$ 3,20.