O indicador mais sensível e aparente de situações de tensão no mercado financeiro voltou a piscar em sinal de alerta nesta segunda-feira (5). A alta de 1,03% no dólar acentua o impacto na economia da incerteza política. Já a bolsa cedeu, com baixa limitada a 0,1% ao final da sessão.
O mercado financeiro aponta para a ansiedade em torno da definição do futuro do país, que começa a ser definido nesta terça-feira (6) no julgamento, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer por irregularidades no financiamento da campanha.
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Apesar do sinal de nervosismo, a reação do mercado às mais recentes revelações no Brasil foi considerada "surpreendentemente benigna" pela consultoria Eurasia Group, uma das poucas que tentam fazer o cálculo das probabilidades da queda de Temer. Esse comportamento financeiro de curto prazo e protestos de rua "relativamente modestos" fizeram a Eurasia aumentar de 30% para 40% a chance de o peemedebista se manter no Planalto. Subiu, mas ainda é menos da metade.
Como as hipósteses são muito abertas – pedido de vista, cassação parcial, cassação total –, e a decisão pode ultrapassar o prazo de quinta-feira, quando em tese deveria terminar o julgamento, o clima de tensão tende a se esticar pelo mês afora. Se a indefinição se arrastar, há risco de que o dólar espiche a tendência de alta.
Na órbita inferior a R$ 3,40, a cotação da moeda americana estimula a exportação e não pressiona a inflação a ponto de ameaçar a redução de juro pelo Banco Central. Caso suba mais, eleva preços. Para a economia, o pior cenário é o de indefinição.
Também há desconforto em relação a indícios de que o governo federal estaria embrulhando um "pacote de bondades", que teria como conteúdo correção da tabela do Imposto de Renda, liberação para participação estrangeira de até 100% nas companhias aéreas e até tributação na distribuição de juros sobre capital próprio – essa já ensaiada no governo Dilma, sob grande rejeição. Bondades todos querem, a questão agora é "a que preço?".