Além de obter recursos de forma vantajosa, uma das especialiadade da JBS é se "vacinar" diante de ameaças. Foi assim com as operações suspeitas de venda de dólares e ações que antecederam a revelação das delações que envolveram o presidente Michel Temer, foi assim com o discurso anterior à operação da Polícia Federal deflagrada hoje. Sabendo que seria alvo de investigações mais profundas, a empresa tratou de filtrar o discurso da "retaliação" – estaria sofrendo as consequências de comprometer o poder.
Depois que a empresa conseguiu operar a façanha de ter imagem pior do que a da Odebrecht em poucos dias, vai ser difícil emplacar essa tese diante da opinião pública, mas não é nisso que a empresa está interessada. O que procura capturar é o equivalente nacional da "dúvida razoável" sobre a suposta perseguição. No dois últimos dias úteis da semana, antes da operação, a empresa foi atingida por uma sucessão de episódios:
1. Elevação da multa cobrada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de R$ 500 mil para R$ 500 milhões
2. Interrupção no abastecimento com gás natural por parte da Petrobras, sob alegação de quedra de cláusula anticorrupção, na Termelétrica Mario Covas, em Cuiabá, aquela citada por Ricardo Saud, diretor de relações institucionais da JBS em pedido de "ajuda" ao governo federal
3. Cobrança anteciparda, por parte da Caixa Econômica Federal, de empréstimo de R$ 50 milhões feito para a Flora, dona de produtos de higiene e limpeza como Ypê, Minuano e Neutrox.
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Ainda há outras iniciativas que a empresa poderia classificar como "retaliação". Como tanto o acordo de delação, no âmbito pessoal dos empresários Joesley e Wesley e mais cinco executivos, quanto o de leniência, firmado pela holding J&F, tiveram condições mais do que favoráveis, está na hora de empresa e empresários enfrentaram consequências de seus atos. Mas a dose não pode sugerir a ideia de que a máquina do Estado tenha sido movida com objetivo de vingança.