O "maior acordo de leniência do mundo", fechado com a holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista, prevê o pagamento de multa de R$ 10,3 bilhões no prazo de 25 anos. Parece muito dinheiro, mas é bom levar em conta uma prática do universo empresarial: trazer dívidas a "valor presente". Como só embute correção pelo IPCA, o acordo pode ser ainda melhor do que parece. Entenda como funciona.
A prática empresarial
Wagner Salaverry, diretor de gestão de renda variável da Quantitas, lembra que empresas e investidores calculam o valor atual de pagamentos futuros para saber quanto desembolsariam se tivessem de quitar tudo hoje, chamado no jargão de "valor presente". Essa conta é feita aplicando um desconto, normalmente equivalente à remuneração do CDI, descontada da inflação esperada para o período.
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Com os R$ 10,3 bilhões serão pagos em 25 parcelas anuais, com ajustes só de inflação, o valor presente da multa cai bastante, observa Salaverry. No cálculo que leva em conta o juro real implícito esperado até 2040, de 5,56% ao ano, o valor presente do acordo cairia para R$ 3,5 bilhões.
Na hipótese de melhora na economia, com queda da inflação e do juro real, este para 5% ao ano, o cálculo ficaria em R$ 5,8 bilhões. Na situação inversa, de inflação e juro real mais altos, de 6% ao ano, o valor presente do "maior acordo" ficaria em meros R$ 2,3 bilhões.
Salaverry prefere não opinar se o acordo foi bom ou ruim, mas nem precisa. Se o valor nominal de R$ 10,3 bilhões equivale a um dia de faturamento, a maior conta de valor presente dá meio dia.