Foi um dia tenso, que se traduziu na volta do circuit breaker, mecanismo que tem exatamente a função de evitar o efeito do pânico na bolsa de valores. Analistas de mercado e economistas focados em macroeconomia convergiram na avaliação de que o governo Temer se tornou inviável após a delação da JBS, com raras exceções. Os próximos dias terão oscilações intensas, até que o cenário fique mais claro.
Bráulio Borges
Economista-chefe da LCA Consultores
"O governo Temer, muito provavelmente, morreu. Resta saber como será sepultado. Do ponto de vista da economia e da restauração da normalidade, quanto mais rápido Temer cair, melhor. Uma renúncia seria a opção que aceleraria a restauração da governabilidade. Enquanto Temer resistir, a crise escalará, nos mercados e nas ruas."
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Vagner Salaverry
Quantitas
"Politicamente, o presidente Temer está inviabilizado. A divulgação das gravações define se a mudança de governo será rápida ou não. Se não for, a crise se prolonga, com Temer tentando se manter no cargo, sem governabilidade. A melhor situação seria uma sucessão rápida de fatos, que impedisse cenário de crise prolongada, com efeitos nos mercados."
Alexandre Espírito Santo
Economista da Órama
"Olhar para o mercado financeiro hoje (quinta-feira, 18) não é conveniente. No circuit breaker, há pânico. Se o país estiver convencido de que precisa de responsabilidade fiscal e de reformas, não me preocuparei tanto com o futuro. É claro que teremos dificuldades, porque as reformas serão adiadas, não há clima. Estamos sofrendo, mas as instituições ainda funcionam."
Carlos Müller
Analista-chefe da Geral Investimentos
"A retomada tende a demorar mais. Não há ambiente para as reformas. Há impacto na confiança. Sem saber o rumo do país, as empresas vão segurar investimentos que poderiam ser feitos por conta de dados melhores, como o PIB do primeiro trimestre. Com inflação em queda, há espaço para cortes no juro. A turbulência prejudica a recuperação. O cenário é de queda de Temer."
Alessandra Ribeiro
Diretora de macroeconomia e política da Tendências
"Em cenário de transição, é difícil pensar que as reformas sairiam do papel. Esses episódios aumentam as dúvidas para as eleições de 2018, o que abre espaço para um candidato outsider, sem condições para encaminhar reformas. O BC terá espaço para reduzir juro se o câmbio ficar entre R$ 3,40 e R$ 3,50, sem efeito na inflação, mas em ritmo mais cauteloso."
Nelson Marconi
Professor da Escola de Negócios da FGV
"Os parcos investimentos serão paralisados, dada a crise de confiança. A redução do juro poderá ser interrompida ou ter seu ritmo reduzido, e as reformas não serão aprovadas rapidamente. Talvez nem sejam votadas. A atividade poderá piorar, saindo da atual estabilidade no fundo do poço. Caberá ao governo, seja lá qual for, blindar o BC e o Tesouro."