Com a divulgação do mais conhecido indicador de atividade econômica, o anúncio da primeira variação positiva do Produto Interno Bruto (PIB) se tornou questão de tempo. O aumento de 1,12% no período de janeiro a março, na comparação com o último trimestre de 2016, no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), chancela o que vários – e grandes – bancos privados já vinham antecipando: o Brasil voltou a crescer no primeiro trimestre do ano.
Um dos primeiros foi o Itaú Unibanco, ainda antes do final de abril. De uma tacada, a instituição elevou de 0,5% para 1,4% sua projeção para o PIB dos três primeiros meses do ano. Depois, passaram a estimar o resultado para algum ponto acima de 1% o Bradesco, o Santander e a Merrill Lynch.
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Boa parte desse desempenho se deve à agropecuária, e mais especificamente à supersafra de grãos que o Brasil deve colher neste ano. Diferentemente do que ocorre no Rio Grande do Sul, onde os efeitos são sentidos com mais intensidade entre abril e junho, os analistas situam os maiores benefícios da movimentação no campo no primeiro trimestre. O Itaú, por exemplo, já avisou que, até onde enxergava no final do mês passado, será o período de maior alta do PIB no ano.
Isso significa que a recessão terminou? Tecnicamente, o governo estará autorizado a fazer essa afirmação no dia 1º de junho, quando o IBGE comunicar o resultado oficial do PIB até março. A crise brasileira terá terminado? Aí, a conversa é mais longa e mais complexa.
Não há dúvida de que o pior ficou para trás. Mas como avisam os economistas, desde o surto de otimismo frustrado desse mesmo período de 2016, a recuperação será lenta.
E especialistas mais sofisticados, como Paulo Picchetti, pesquisador da Fundação Getulio Vargas, consideram o PIB um critério muito estreito para avaliar a situação da economia. Só um exemplo, para ilustrar: está ou não em dificuldade um país que tem 14 milhões de desempregados?
Outra informação que recomenda cautela foi a queda de 2,3% no setor de serviços em março, na comparação com o mês anterior. Vem desse segmento mais da metade do PIB nacional, e o resultado foi o pior desde 2012.
Ao menos, um número positivo no mar vermelho em que se transformou o painel de indicadores da economia brasileira vai servir para desanuviar o cenário e ajudar a motivar milhares de empregadores e trabalhadores que teimaram em desafiar a crise desde antes de seu início oficial, em 28 de agosto de 2015.