Havia expectativa de que fosse acionado, nesta quinta-feira (18), o mecanismo que interrompe a negociação na bolsa de valores, o chamado "circuit breaker" – algo como "interrompedor do circuito". Para dar uma ideia de quando a ferramenta é usada, isso não acontecia há quase uma década. A última vez havia sido em 2008, durante a crise de crédito internacional com origem na bolha imobiliária americana. O que não se esperava é que isso ocorresse tão cedo. O primeiro acionamento se deu ainda no pré-mercado, antes da abertura oficial. O segundo, pouco mais de meia hora depois da abertura, quando a queda passou de 10%.
O mais eloquente foi o comportamento do mercado financeiro imediatamente após o pronunciamento em que Michel Temer usou as palavras "não renunciarei". O dólar, que havia zerado perdas e ganhos até então, subiu mais 1,7%, para fechar com alta de 8,15%, para R$ 3,39, mesmo com atuação pesada do Banco Central, que ofereceu contratos que amortecem a pressão sobre a moeda americana. O avanço percentual desta quinta-feira (18) foi o maior desde 1999.
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A bolsa, que mantinha queda ao redor de 7% depois do primeiro "circuit breaker", mergulhou para fechar em queda de 8,8%. Essa é a maior retração diária desde 22 de outubro de 2008, quando o Ibovespa despencou 10,2%. O quadro foi mais de fortes oscilações do que de perdas disseminadas: algumas ações, como as de Fibria e Suzano, subiram dois dígitos, mais de 10%. Outras sofreram mais do que a média: papéis da Eletrobras chegaram a cair 20%, e os do Banco do Brasil, 19%. Não por acaso, duas empresas estatais, que dependem diretamente do governo.
Assim como a bolsa, todos os indicadores do mercado financeiro registraram comportamento de aversão ao risco, ou de reação à incerteza: o risco Brasil subiu, assim como os juros futuros. Ambas são péssimas notícias para a economia: elevam o custo do crédito para investimento.
Confira desempenho de algumas ações na bolsa nesta quinta-feira (18)
20,97%
foi quanto despencaram as ações da Eletrobras, a queda mais intensa na bolsa nesta quinta-feira (18). A estatal, em difícil situação financeira, foi atingida pelo risco de o plano do governo para o setor elétrico ir por água abaixo.
20,43%
foi o valor da baixa dos papéis da Cemig. O tombo está relacionado com a prisão do ex-diretor Frederico Pacheco de Medeiros, apontado como receptor de dinheiro da JBS a pedido do senador afastado Aécio Neves (PSDB).
9,26%
foi quanto recuaram as ações da JBS, empresa dos irmãos Batista, que já vinham perdendo valor no mercado. A perda é uma resposta do mercado à delação de Joesley Batista, que colocou o governo Temer de cabeça para baixo.
11,48%
foi o avanço dos papéis da Fibria, o maior da sessão desta quinta-feira (18). A companhia escapou da maré vermelha da bolsa por conta dos altos preços da celulose no mercado, além de se beneficiar do avanço do dólar. É um dos sinais da volatilidade na bolsa.