Esta deveria ter sido a semana das boas notícias. Na quarta-feira (31), o Banco Central faria o maior corte no juro básico da história recente do país. Na quinta (1), o Brasil comemoraria a primeira elevação no PIB em dois anos de quedas profundas e disseminadas.
Em 15 dias, tudo mudou. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por calibrar a taxa de referência de custo de crédito na economia, tornou-se uma incógnita. As apostas variam de parada estratégica na poda até manutenção da tesourada de um ponto percentual, como na reunião imediatamente anterior.
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É claro que são minoritários os que projetam decisão de esperar cenas dos próximos capítulos da crise para decidir sobre o juro. Neste momento, além de dar sinal de que a economia não vai bem, representaria um sinal de temor sobre os desdobramentos da crise política que contaminaria outros agentes econômicos – se é que a incerteza poupou alguém do contágio até agora.
Quem acreditou que o mercado financeiro havia processado o terremoto viu nesta segunda-feira (29) a bolsa recuar 0,51% e o dólar voltar a escalar perto do patamar de R$ 3,30, com avanço de 0,15%.
O Relatório de Mercado – Focus já trouxe o recado: muita gente está refazendo contas e projeções diante da coluna de fumaça que se ergueu do terremoto em Brasília. As estimativas para a inflação voltaram a subir depois de 11 semanas, e a média para PIB do ano recuou um centésimo. É quase nada, mas dá um sinal.
Os recálculos não se aplicam a outro indicador crucial da semana, o resultado da atividade econômica de janeiro a março. Apenas porque é imutável, ou seja, o movimento do PIB nesse período se encerrou em 31 de março. Mas se antes da delação da JBS havia dúvida sobre a continuidade desse crescimento – 11 em cada 10 economistas projetam variação positiva, embora com grande amplitude, entre 0,5% e 1,5% –, agora o nível de incerteza decolou.
A possibilidade de que o PIB no azul não represente o desejado fim da recessão, mas marque apenas um período de trégua aumentou. Para a economia, uma solução rápida da crise política seria o menos pior dos mundos – melhor, a essa altura, seria um luxo. Os sinais de que o governo Temer pretende pagar para ver sua continuidade embutem custos. O maior seria ver o país se arrastar sem rumo até 2018.