Poucas vezes um comunicado do Banco Central (BC) foi tão explícito: "Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado nesta quinta-feira deve se mostrar adequada em sua próxima reunião". Às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), economistas diziam que, mais do que o corte, sobre o qual havia se formado consenso de um ponto percentual, importaria o comunicado.
E o comunicado importou. O aviso é de que acabou a festa das grandes tesouradas no juro básico, ao menos no atual ciclo (veja outras decisões históricas no gráfico abaixo). Voltaremos à normalidade da incerteza. Mesmo diante do imponderável, alguém no BC deve ter pensado: no meio da fumaceira, alguém precisa mostrar o que vem pela frente.
E para a maioria dos economistas, é hora de arquivar as apostas de juro básico abaixo de 9% no final do ano. A previsão passa a ser de mais dois cortes: um de 0,75 ponto e outro de 0,5.
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Mais do que assumir papel de farol depois da insegurança do terremoto em Brasília, o BC adotou o tom de consultor, ao destacar, no comunicado, que "o conjunto dos indicadores (...) permanece compatível com estabilização da economia brasileira no curto prazo e recuperação gradual ao longo do ano. A manutenção, por tempo prolongado, de níveis de incerteza elevados sobre a evolução do processo de reformas e ajustes na economia pode ter impacto negativo sobre a atividade". Em bom português, sugeriu ao governo que governe. Ou se retire.
Quando todas as especulações convergiam para um corte ainda acima de um ponto percentual na reunião de ontem, veio a delação da JBS, que sacudiu todas as certezas políticas e, consequentemente, econômicas. O BC foi elogiado por tomar uma decisão que conciliou a necessidade de um corte significativo com a prudência exigida por um momento de indefinições políticas, com consequências na economia. Afinal, no mesmo dia do corte histórico, a bolsa caiu 1,96%, de olho na turbulência em Brasília.