Poucos dias depois de o balanço de 2016 deixar clara a dificuldade de a CEEE Distribuidora (D) manter sua concessão, a ideia de privatizar o grupo todo ganhou força no Piratini. As justificativas vão dos prejuízos seguidos da empresa que leva energia até o consumidor final – a Aneel determinou que, em caso de maus resultados por dois anos seguidos, a empresa deixa de ser concessionária autorizada – até a disposição do governo estadual de sair de áreas não considerada "papel do Estado", como minerar carvão (CRM), fornecer energia (CEEE) e distribuir gás (Sulgás). Um ano já foi: a CEEE-D teve prejuízo de R$ 527,2 milhões em 2016.
Existem fios desencapados entre o Piratini e a CEEE. A empresa, que tem o governo do Estado como principal acionista (66%), desenvolve um plano de salvação. Contratou uma consultoria mineira, a Ceres Consultoria Empresarial, para avaliar e colocar à venda participações em 18 consórcios. Com o que arrecadar, imagina obter recursos para garantir resultado positivo em 2017 e evitara perda da concessão.
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Os negócios são avaliados em R$ 1 bilhão, e, nas contas da diretoria, R$ 300 milhões seriam suficientes para evitar o pior. Outros cálculos estimam que R$ 450 milhões seriam necessários. Outra consultoria, a PwC, que audita os balanços da CEEE, foi contratada para definir preço de mercado do grupo. Um estudo não deveria dispensar o outro? No balanço da distribuidora, a PwC apontou "incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa sobre sua continuidade operacional". O passivo é de R$ 1,24 bilhão para ativo de R$ 1,04 bilhão. Se vendesse tudo o que tem, a empresa ainda ficaria "devendo" R$ 200 milhões.
Há risco de curto-circuito nas duas conexões. No plano da CEEE, se tudo desse certo – o mercado tem superoferta de ativos de energia –, a distribuidora ganharia sobrevida, sem resolver o problema estrutural que acumula perdas acima de R$ 1,5 bilhão em cinco anos. No Piratini, ninguém responde com clareza o que fazer com os ex-autárquicos e a complementação do pagamento a inativos. O mercado não tem apetite para absorver esses custos.