Estrategista-chefe da área de análise da XP Investimentos, Celson Placido esteve no Estado a convite da Messen Investimentos, de Porto Alegre. Também passou em Caxias do Sul, onde constatou efeitos do que chama de "década perdida" no setor automotivo. Mesmo se dizendo otimista, por prever quatro anos seguidos de crescimento, avalia que só a partir do segundo semestre será possível inverter o sinal da economia.
Risco institucional
"O maior risco é esse governo não terminar o mandato, com risco de eleição, em 2018, de um populista, de esquerda ou de direita. É um risco baixo, mas existe. Falta um ano e meio para as próximas eleições. Se fosse um processo em que em um dia sai o presidente, no seguinte assume outro, não seria um risco tão grande, mas não é rápido assim. O processo leva tempo, quantas testemunhas terão de ser ouvidas, o próprio advogado do presidente Temer tenta anular algumas delações. É possível que o governo perca alguns soldados, mas se o presidente cai, o sucessor será eleito pelo atual Congresso, que todos sabemos como está. Terá 12 meses no cargo, sem orçamento. Vira uma figura de fachada, não pode fazer nada. Não podemos ter mais dois anos recessivos. Se o desemprego chegar a 20 milhões de pessoas, não poderemos mais sair às ruas."
Volta do crescimento
"O resultado do PIB de 2016 trouxe uma taxa de carrego (efeito estatístico) de 1,1% negativo para este ano. O país só vai voltar a crescer no segundo semestre. A produção industrial pode até melhorar, baixa de estoque, algum outro setor. mas não se vê melhora que possa se refletir no PIB. Em 2014, indústria e construção civil demitiram. Em 2015, foi indústria, construção civil e varejo. Em 2016, indústria, construção civil, varejo e serviços. Nossa projeção, desde outubro do ano passado, é PIB entre zero e 0,5% para este ano. A gente acredita que haverá melhora a partir do segundo semestre. O lado bom é a inflação controlada, que pode ajudar a reaquecer economia com juro menor."
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A recuperação
"Tivemos estagnação em 2014, seguida por duas quedas, de 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016. É difícil recuperar. Alguma reação que está se vendo em janeiro e fevereiro é consumo de estoques. Vamos para patamares, na indústria de automóveis, para 2005, na de caminhões, para 2000. É a famosa década perdida. Para voltar ao mesmo valor do PIB, com a previsão do Focus de 0,5% neste ano e 2,39% em 2018, e utilizando 2,5% até 2021, só então voltaríamos ao mesmo PIB de meados de 2014. E isso é otimismo, prevendo que o país cresça quatro anos seguindo, com eleições no meio."
Concessão e licitação
"É preciso atrair investimento estrangeiro para concessões e licitações. Aí é construção civil, é emprego. Movimenta toda a indústria de autopeças, siderúrgica, de cimento. Esse processo está correndo desde abril do ano passado, demorou. O investidor estrangeiro quer entrar no Brasil. Quando perguntamos por que, eles dizem 'vocês são 200 milhões de consumidores'. Temos uma mostra do que pode dar certo no Terminal 3 de São Paulo, no nível dos melhores do mundo. Quando se faz a conta lá fora, como o mundo está extremamente líquido, com juros reais tendendo a zero, e o Brasil oferece o maior juro real do mundo, se o estrangeiro consegue retorno de 5% a 6% ao ano, é muito."
Quebra de paradigma
"Houve uma quebra de paradigma há pouco mais de um mês, a emissão de dívida da Petrobras. A empresa pretendia apenas rolar um título de US$ 2 bilhões, houve investidores interessados em US$ 20 bilhões, acabou emitindo US$ 4 bilhões, com a menor taxa com que emitiu dívida, sendo que havia perdido o grau de investimento e, há dois anos, não tinha sequer balanço. Quando vejo isso, penso 'o que o investidor estrangeiro está vendo de diferente na gente'?"