O Carnaval terminou, ao menos oficialmente, mas muita gente esqueceu de tirar a fantasia. A ressaca pós-folia começou pesada, com investigados dando sinais de que seguem em um universo paralelo no qual escapar da realidade segue sendo a regra. Um escolheu o traje inverossímil de bobo da corte, outro preferiu envergar as roupas de despistado, que não sabe como centenas de milhares de dólares foram parar na conta.
Tudo isso ocorreu depois que os brasileiros enviaram todos os sinais possíveis de que gostam, sim, de um enredo exaltação, desde que adequado ao calendário e limitado a quatro dias. Do jeito que começou a versão para valer de 2017, depois das férias legislativas e judiciais, há sério risco de que o ano repita o anterior, com incertezas crescentes sobre os rumos da política e da economia.
Alguns políticos e empresários acreditam que ainda é possível manter os brasileiros com a caracterização de outros carnavais, de otários prontos a comprar sua versão. Felizmente, não é mais assim. O uniforme causou muito estrago e cansou.
A confissão de compra de medidas provisórias e a forma de garantir benefícios em troca de contribuições para campanhas precisam ter dois efeitos: o punitivo e o pedagógico. A exposição do modus operandi – sim, a mesma expressão usada para caracterizar os rituais criminosos – deve ensinar os brasileiros a duvidar de leis excessivamente benéficas para setores específicos e transformar o exame do histórico financeiro de candidatos em hábito.
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O sonho de muitos brasileiros de acabar com a corrupção é inatingível. O comportamento não é exclusividade nacional, como mostram as investigações em torno da Fifa e seu "padrão" que por muito tempo se impôs no Brasil e até do Comitê Olímpico Internacional, considerado mais "amador", portanto menos suspeito.
Mas o grau de incidência desse desvio pode ser reduzido. Informação de qualidade, vigilância e baixa tolerância a desculpas esfarrapadas são a melhor forma de aposentar – desculpem a palavra que hoje desperta outros temores – o uso reiterado dos trajes de otários entre os brasileiros.