Em período de reação do real frente ao dólar – mais precisamente, de encolhimento das verdinhas frente a outras moedas do mundo –, a balança comercial brasileira ofereceu um sinal positivo: além do maior saldo positivo em primeiro bimestre do ano, de US$ 7,3 bilhões, desde o início da série histórica, em 1989, um dado alentador: as importações tiveram em fevereiro o terceiro mês consecutivo de alta.
Até o final do ano passado, o bom saldo era garantido mais pelo recuo das compras no Exterior, sintoma de recessão e de custo cambial. Na otimista avaliação do secretário de Comércio Exterior, Abrão Neto, o principal motivo para essa recuperação seria o o reaquecimento da economia brasileira. Dada a expectativa seguida de frustração do ano passado, é bom manter cautela e submeter a tese à verificação.
Leia mais
Confirmação de crescimento mais modesto deve moderar alta de juro nos EUA
Trump tem apetite por múltiplas guerras: interna, comercial e real
Mercado não discute Trump, precifica
Outro sinal positivo foi dado ontem pela ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) da semana passada, que confirmou a perspectiva de um corte mais ousado no juro básico. Com base nos trechos nos quais a direção do BC aponta que "perspectivas para a inflação evoluíram de maneira favorável e, em boa parte, em linha com o esperado desde a reunião do Copom em janeiro", analistas interpretaram que o corte na taxa de referência pode chegar a um ponto percentual no próximo encontro. Vai demorar um pouco para conferir: a próxima avaliação sobre o nível do juro está marcada apenas para 12 de abril.
O mais curioso é que nesta quinta-feira com duas raras boas notícias na economia real, o mercado financeiro voltou a acentuar o comportamento descolado: a bolsa caiu 1,69%, em meio a preocupações com uma alta no juro mais rápida do que o que se previa nos Estados Unidos. O mesmo motivo fez o real perder terreno frente ao dólar, com a moeda americana se apreciando 1,55% e fechando em R$ 3,14 e invertendo a tendência recente do câmbio. Os otimistas dirão que a bolsa correu na frente, antecipando-se às boas notícias. Os demais têm motivos para se refugiar no ceticismo que marca os últimos anos no Brasil.