Não bastassem os desvios bilionários de dinheiro público para exasperar os brasileiros, quando os recursos chegam onde é preciso – na saúde, na educação, na segurança, no transporte, é possível enxergar a ineficiência. A duplicação da BR-116 é um desses casos. Por mais que a divisão da obra em trechos tenha explicações técnicas, provoca arrepios nos contribuintes a visão de partes de estrada com duplicação praticamente concluída e, no entanto, inutilizáveis, porque faltam conexões com a pista – e, principalmente, estão distantes um do outro.
Diante da falta de recursos para acelerar e concluir as obras, os quilômetros quase prontos ficam abandonados. A chuva contribui para a erosão da base, fazendo com que, além de não poder usar, os contribuintes fiquem com a sensação de desperdício tolerado.
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O trecho sul da mais longa rodovia pavimentada do Brasil, que liga Fortaleza (CE) a Jaguarão, na fronteira com o Uruguai, não é apenas mais uma das mal conservadas estradas do país. Liga uma área importante de um Estado produtor ao último porto internacional do país.
Além de irritar e causar prejuízos a usuários frequentes, obrigados a longas filas de caminhões que caracterizam o tráfego no trecho Guaíba-Pelotas, a duplicação inconclusa exaspera contribuintes que identificam no estado atual e na desorganização das obras um espelho da falta de capacidade de execução do Brasil.
O tempo extra que a carga leva para chegar a Rio Grande é um dos fatores do Custo Brasil. Gastam-se mais horas, mais combustível, mais tempo de trabalho dos motoristas. O resultado é um produto mais caro e menos competitivo para brasileiros e no mercado externo. É um impacto direto na economia.
Pior ainda, o número de colisões frontais, típicos de rodovias de alto tráfego, provoca mortes que poderiam ser evitadas não com uma montanha de recursos de que o país não dispõe, mas como priorização de destino e disciplina na execução. É difícil, no Brasil. Mas não é impossível.