Em meados de 2011, a japonesa Kirin Holdings comprou 50,45% da Schincariol por R$ 3,95 bilhões, dando início à Brasil Kirin. Cinco anos e meio depois, os executivos orientais vendem o braço brasileiro da companhia para a holandesa Heineken. O valor do negócio? Aproximadamente R$ 2,2 bilhões. Isso mesmo. Entre um e outro negócio na terra da jabuticaba, o prejuízo asiático foi de R$ 1,75 bilhão.
Do plano de negócios imaginado, pouca coisa deu certo. Quando o grupo japonês desembarcou no país, o prometido era aumentar as vendas em 10% por ano e lucrar R$ 2,5 bilhões em quatro anos. Em vez disso, o prejuízo foi de
R$ 3,8 bilhões. Mesmo estreando como a segunda maior empresa do setor, não conseguiu encontrar espaço no disputado mercado local.
Na prática, enfrentou os mesmos obstáculos que, anos antes, levaram Adriano e Alexandre Schincariol a venderem sua parte na cervejaria: patinaram no segundo lugar, sem conseguir ganhar fôlego. Enquanto isso, Petrópolis e Heineken não pararam de engordar o número de clientes.
De "mercado emergente promissor", como citava o comunicado emitido quando foi anunciada a aquisição da Schincariol, o Brasil se tornou, em pouco tempo, grande problema para os japoneses. Não que o país não seja um belo mercado para venda de cerveja, mas é que a concorrência por aqui é dura. A Ambev, do bilionário Jorge Paulo Lemann, domina mais de 60% do mercado – estimativas de consultorias variam, mas giram em torno dessa projeção.
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Para enfrentar o adversário gigante, a Brasil Kirin tentou competir com preços mais baixos. A estratégia, que reduziu ainda mais a margem de lucro, não funcionou. Com mais fôlego financeiro e mais capilarizada no território nacional, a Ambev fez o mesmo e se deu melhor.
Sem muita alternativa, a opção japonesa foi abrir mão do negócio antes que o prejuízo crescesse. Sorte dos holandeses, que chegaram a fazer, anos atrás, oferta bem maior do que os R$ 2,2 bilhões pagos aos asiáticos para a Schincariol e acabaram não levando.
A expectativa de analistas que acompanham o mercado cervejeiro é de que a Heineken, com maior envergadura, adote outras estratégias – deixando de lado a competição de preços – para ganhar terreno. Isso daria gás para as demais empresas do setor também aumentarem as margens. Animadas com essa possiblidade, as ações da Ambev na Bovespa avançaram 0,75% nesta terça-feira.
Entre as alternativas que a Heineken teria para crescer, está a compra da brasileira Petrópolis, dona da Itaipava. Não é segredo para ninguém que os holandeses estão de olho na empresa controlada por Walter Faria.
De malas prontas, a Kirin volta os olhos para os mercados que, para a companhia, sempre foram prioridades: Ásia e Oceania. No mesmo dia em que anunciou a venda da divisão brasileira, confirmou a compra de uma grande cervejaria em Mianmar. Acostumados a bebidas fortes, como o tradicional saquê, ao que parece, os japoneses tiveram ressaca causada pela cerveja brasileira.
*A colunista Marta Sfredo está em férias