No segundo trimestre de 2016, parecia que havia chegado a hora. Os indicadores de confiança começaram a subir, e os brasileiros sonharam com o momento em que deixariam a crise para trás. A animação durou alguns meses, mas sucumbiu à falta de melhoras concretas de cenário. A segunda semana de 2017 voltou a acender uma luz de esperança, tanto pelo corte mais agressivo no monstrengo do juro brasileiro quando pela tênue, mas promissora, inflexão nos indicadores de atividade econômica.
Tanto o IBC-BR do Banco Central quanto o Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas mostraram no final da semana que, em novembro passado, houve variação positiva depois de quatro meses de recuo – que havia sido brevemente interrompido no segundo trimestre. O IBC-Br avançou parcos 0,2%, mas veio acima da expectativa do mercado. O da FGV subiu mais, 0,67%. Detalhe: é calculado a partir das mesmas fontes de dados e metodologia do IBGE nas contas oficiais do PIB.
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O problema é que os dois termômetros apontam quedas pesadas no acumulado de 12 meses: assustadores 4,96% no IBC-Br e 4% para a FGV. Reerguer a economia depois de um tombo desse tamanho exige alavancas de que o governo não dispõe. Com finanças públicas comprometidas, a que sobra é a calibragem do juro básico. E é por isso que o BC, ao definir a taxa de referência, passou, sim, a olhar para o nível de atividade.
A postura deve ficar mais clara na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) a ser publicada na próxima terça-feira, mas foi sugerida no comunicado e reiterada em entrevista do diretor de assuntos internacionais do BC, Tony Volpon, ao Valor: "O BC vai acabar correndo algum risco inflacionário, mas se fizermos um balanço de risco adequado e abrangente, olhando não só inflação, mas também atividade, é o momento de tomar esse risco." Pode valer a pena.