Jornais americanos relatam que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria sido desaconselhado por assessores a escolher My Way, espécie de canção-fetiche de Frank Sinatra, para abrir o baile da posse. Não pelos motivos mais óbvios: a letra é uma exaltação ao egocentrismo, a quem vive de desafiar o senso comum e a maioria consolidada – em tese, o oposto do que deve fazer um chefe de Estado, ainda mais o da nação mais poderosa do planeta. Mas porque começa com o verso "E agora, o fim está próximo..." (And now the end is near).
Até Nancy Sinatra, a filha do cantor com biografia relacionada à máfia, perguntada sobre a escolha, respondeu: "Recordem da primeira linha da canção". Assim como outros presidentes eleitos sob o signo da divisão, Trump provoca discussões abertas sobre um eventual pedido futuro de impeachment mesmo sem qualquer justificativa para isso. O barulho com que foi recebido seu discurso mais segregador do que agregador ajudou a jogar combustível na resposta das ruas, tanto nos protestos violentos do dia da posse quanto nas Marchas das Mulheres do sábado.
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Em seus tuítes, ainda no perfil pessoal, Trump deu um sinal de que não ignora o efeito de multidões nas ruas. Uma hora e meia depois de ter dado uma resposta desafiadora – "por que não votaram?" –, ele voltou a teclar, em outro tom: "Protestos pacíficos são um marco da nossa democracia. Mesmo que eu nem sempre concorde, reconheço o direito das pessoas de expressar suas opiniões." É pouco para dar esperança, mas é algo.
Nos Estados Unidos, o que se discute é se a alta da bolsa de valores que se seguiu à eleição de Trump será mantida ou se, na medida em que ele for cumprindo suas promessas – ou ameaças –, o entusiasmo pode desandar. Sua primeira medida prática reiterou a tese de que sua estada na Casa Branca não será tão distinta de suas teses de campanha.
Assinou uma ordem com força de decreto para enfraquecer o Obamacare enquanto não apronta sua alternativa. Melhor, portanto, levar a sério o restante de seu perturbador programa de governo, ainda que com a temperança do papa Francisco, que recomendou esperar o que Trump fará antes de avaliar, para não vestir o figurino de "profeta de calamidades".