Donald Trump não fez promessas de campanha. Fez ameaças. E começa a cumpri-las, uma a uma. Um de seus primeiros atos foi um decreto para enfraquecer o Obamacare, o programa de saúde pública americano criado por seu antecessor, até que apronte uma alternativa. A assinatura do termo que abre caminho para a saída dos Estados Unidos do acordo chamado de Parceria Transpacífica (TPP, do termo em inglês Trans-Pacific Partnership) detona, ao mesmo tempo, as esperanças teimosas de quem acreditava que o Trump presidente não repetiria os erros do Trump candidato, um projeto para isolar um de seus alvos, a China, e um novo modelo de globalização. O argumento do novo ocupante do Salão Oval é de que será bom para os fabricantes americanos. A bolsa de Nova York, que subiu animada com a perspectiva de estímulo, recua.
Em julho passado, quando a ameaça ao TPP ainda não era levada a sério, a coluna conversou com Michael Gadbaw, professor do Instituto de Direito Econômico Internacional da Universidade de Georgetown, de Washington, sobre o acordo anunciado pouco tempo antes. Para o americano, que teve altos cargos na administração pública americana, o TPP estabelecia um novo padrão para a globalização, permitindo até a suavização da críticas aos acordos de livre comércio que pensavam apenas nos ganhos das empresas, em cuidar dos cidadãos e do ambiente.
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Dizia Gadbaw: "o TPP remove barreiras para o comércio internacional de bens, de serviços, assegura o fluxo de investimentos, mas também lida com novas áreas, como ambiente, direitos de propriedade intelectual, coerência regulatória e alguns dos problemas mais difíceis, como corrupção e diretos dos trabalhadores". E acrescentava, consciente do debate que se travava no Brasil à época: "É um acordo que países como o Brasil precisam olhar para e decidir se querem fazer parte".
Entre as várias funções do TPP, uma era exatamente impedir que a China reinasse sozinha no Pacífico. Sim, a mesma China cujo poder Trump quer combater. O acordo de parceria era visto como uma cunha aberta pelos EUA na região, uma forma de moderar as vantagens competitivas do dragão asiático, que permitiam desviar para lá investimentos antes feitos em outros países, inclusive nos Estados Unidos. Não era apenas por bom-mocismo que o TPP continha cláusulas trabalhistas e ambientais. Era uma questão de pressão.