Duas rebeliões, quase uma centena de mortes. Vários especialistas já apontaram que, na combinação de fatores que levou ao caos prisional no Brasil, está a indiferença dos que estão do lado de fora. Em vez de "limpar" as cadeias, como pregam certas vozes, a matança reforça o poder paralelo que domina os presídios e transfere a força que ganha na barbárie para as ruas.
Para ajudar a prestar atenção ao que ocorre atrás das grades, a coluna listou filmes que não mostram violência gratuita, como muitos do gênero, mas os que tentam entender essa realidade e transformá-la.
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Brubaker (1980)
Baseado em fatos reais, começa com a chegada de um novo prisioneiro (Robert Redford), que se infiltra entre os detentos para descobrir o que pode ser modificado na gestão do presídio, mas enfrenta resistência política. Um dos aspectos interessantes é a exposição da corrupção e das ilegalidades que dominam a rotina, como se fossem normais. Sem contar a forte oposição às tentativas de reformar esse sistema.
Carandiru (2003)
Esse mergulho no caos do sistema prisional brasileiro é baseado no livro de Drauzio Varella. Parte das experiências de médico que tenta ajudar a prevenir doenças, especialmente as sexualmente transmissíveis, no que era então o maior presídio da América Latina, o Carandiru. Violência, superlotação das celas e instalações precárias dominam as cenas. Seria bom se tivéssemos prestado mais atenção antes.
O Pátio do Meu Cárcere (2008)
Esse filme espanhol é baseado na experiência real de um presídio de mulheres que montou um plano para tentar dar uma alternativa às detentas. Bancado pela produtora de Pedro Almodóvar, não cede à tentação de vitimizar as presas, deixa claros os motivos que as levaram à prisão. E igualmente não vilaniza, mas expõe as dificuldades de quem tenta gerenciar uma multidão cheia de problemas.
Cela 211 (2009)
Essa produção franco-espanhola é, de certa forma, o "outro lado" de Brubaker. Conta a história de um agente penitenciário que sofre um acidente em seu primeiro dia de trabalho e se vê em um cela, confundido com um prisioneiro, durante uma rebelião. Mostra um pouco de como as famílias de quem trabalha em presídios é tratada e afetada pela violência. Também lança um olhar sobre o peculiar sistema de lealdades entre representantes da lei e os bandidos.