Seja qual for a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) nesta quarta-feira, fará história. Será o maior corte em 52 meses (se for 0,5 ponto percentual) ou em 56 meses (se for 0,75 ponto percentual). Até para os defensores de uma redução mais drástica, caso a decisão se confirme, vai apontar um BC mais sintonizado com a figura do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, que tem duplo mandato – controle dos preços e busca do pleno emprego – do que amarrado apenas na meta de inflação.
Em comunicados anteriores, o BC já deixou clara sua determinação de não ser complacente com a alta de preços. Quer "dobrar a espinha da inflação" para só então se mostrar mais ousado no corte do juro. Mas o presidente do BC também já manifestou a intenção de perseguir maior autonomia não só operacional, mas formal, como é a do Fed.
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Defensores de uma poda mais agressiva na taxa básica leem na retirada da expressão "processo gradual de flexibilização monetária" na ata da reunião do Copom de novembro, como sinal de que há espaço para mais audácia.
Um dos obstáculos para a decisão do BC – o calendário – pode se tornar um aliado. Marcada para 10 dias antes da posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, a reunião do Copom desta quarta-feira teria de decidir no escuro, apenas com os sinais dados até agora na composição do secretariado e nos provocativos tuítes do eleito para comandar a maior economia do planeta.
No entanto, Trump marcou para esta quarta-feira sua primeira entrevista coletiva formal desde a eleição, o que pode adicionar informações relevantes ao Copom. Os analistas concordam que a maior ameaça para a trajetória declinante da inflação é externa. Embora as internas não estejam fora de cenário, deram uma trégua nas últimas semanas, o que ampliaria a chance de uma tesourada mais decidida.
Se o discurso de Trump fizer sentido econômico e não sugerir aventuras fiscais ou inflacionárias, pode abrir espaço para um corte maior. Todas suas últimas manifestações, porém, apontam no sentido contrário. Boa parte da calibragem na decisão desta quarta-feira virá do frio que dominou os últimos dias nos EUA. Convém prestar atenção.