Pode ter sido uma grande coincidência, mas há um significado emblemático no fato de que as 77 delações premiadas de executivos da Odebrecht tenham sido homologadas no mesmo dia da prisão de Eike Batista. Nos dois casos, haverá longos epílogos, mas uma assinatura e uma prisão assinalam o fim simbólico de trajetórias que pareciam brilhantes e exemplares. Menos de um ano antes da prisão de seu presidente, Marcelo Odebrecht, a empresa havia sido apontada como a maior multinacional brasileira. Graças às investigações no Brasil e no Exterior, agora sabe-se como.
A Odebrecht que emergirá dessa erosão de reputação ainda é uma incógnita. Entre as hipóteses, estão desde o afastamento total da família da gestão da companhia – inclusive do conselho de administração – até uma eventual venda total do negócio. A alternativa é drástica, mas vista como uma das poucas possibilidades de eliminar todos os respingos da Operação Lava-Jato. Há hipóteses menos disruptivas – mas ainda profundas –, como a venda de ao menos R$ 12 bilhões em ativos. Até agora, a empresa demitiu 70 mil funcionários, e pode cortar mais.
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O motivo para medidas tão radicais é o fato de a dívida da empreiteira roçar os R$ 100 bilhões, para um grupo que faturou, em 2015, R$ 125 bilhões. Se no Brasil a Odebrecht é associada à "delação do fim do mundo", que teve abertura nesta segunda-feira mas promete emoções fortes nos próximos atos, nos Estados Unidos a empresa é identificada com a responsável pelo "maior caso de suborno da história" e, nos países da América Latina, tornou-se alvo de investigações paralelas. Foi banida de licitações públicas por Peru, México e Panamá. Na Colômbia, um ex-vice-ministro dos Transportes foi preso por suspeita de receber propina da construtora.
Por enquanto.
A homologação da "delação do fim do mundo" aprofundou nesta segunda-feira os temores do mercado. Foi um dos fatores que fizeram a bolsa de valores fechar com baixa de 2,62%, depois de um mês de ganhos polpudos. O motivo é conhecido: ninguém sabe quem seguirá ocupando sua cadeira quando os termos começarem a ser conhecidos. Há incerteza sobre o futuro dos delatores, da economia e da política. Mas se consolida a noção de que o tempo da impunidade ficou para trás.