Houve quem ficasse surpreendido pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que optou pelo corte mais agressivo no juro, levando a taxa básica de 13,75% para 13% ao ano. Embora a aposta na poda mais modesta, de 0,5 ponto, fosse ainda majoritária nesta quarta-feira, o dia já havia começado com novo sinal em sentido contrário. Ao fechar 2016 em 6,29%, com bastante ar até o teto da meta, de 6,5%, a inflação medida pelo IPCA aumentou a pressão por uma decisão mais ousada. Surpresa, se houve, apareceu na justificativa, que na gestão Ilan Goldfajn tem sido mais longa e detalhada, quase uma ata.
A primeira citação foi de que "o conjunto dos indicadores sugere atividade econômica aquém do esperado". E seguiu afirmando que "a evidência disponível sinaliza que a retomada da atividade econômica deve ser ainda mais demorada e gradual que a antecipada previamente". Claro, está no parágrafo seguinte: "a inflação recente continuou mais favorável que o esperado". Mas o fato de o ritmo da economia aparecer antes da inflação vai dar o que falar.
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Ou o BC resolveu atuar de forma autônoma antes da autorização formal, como Ilan Goldfajn anunciou em seu pronunciamento do final de dezembro, ou vai haver barulho sobre o que, afinal, moveu a decisão: a boa análise econômica ou o interesse do governo na tal agenda positiva. Afinal, é bom lembrar: o único mandato do BC no Brasil é controlar a inflação.
A maior parte dos analistas esperava corte de 0,5 ponto percentual. Mas grandes e boas instituições financeiras apostavam em tesourada maior. E pela rapidez na reação – o Bradesco anunciou corte nas taxas ao mercado minutos depois –, não houve grande surpresa. O BC informou que chegou a cogitar um corte mais moderado. Não o fez diante de "processo de desinflação mais disseminado e atividade econômica aquém do esperado" (sim, de novo), que na avaliação dos oito diretores "já torna apropriada a antecipação do ciclo de distensão da política monetária, permitindo o estabelecimento do novo ritmo de flexibilização". O anormal era um país em recessão longa e duradoura ter inflação e juros estratosféricos. Ao menos algo começa a entrar nos eixos.