Foi um dia de susto em Rio Grande, com rumores sobre um iminente pedido de recuperação judicial da Ecovix, empresa com a maior operação naval na cidade. No final da quarta-feira, a assessoria da empresa informou que não há confirmação – mas não negou a possibilidade. Publicada pelo jornal Valor Econômico, a notícia de que pendências de R$ 6 bilhões seriam alvo de proteção contra credores não surpreenderia, diante das dificuldades do setor.
Caso venha a se confirmar, poderia ser a pá de cal nos polos navais no Estado diante da revisão da política de conteúdo nacional, que fez essa indústria renascer. Para tentar evitar essa “morte anunciada”, sete federações industriais capiteadas pela Firjan lançam hoje, no Rio, o Movimento Produz Brasil. É uma reação a sinais de que o governo Temer pretende extinguir a exigência de produção nacional nos equipamentos de exploração e produção de petróleo, diante de atrasos, altos custos e distorções.
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Marcus Coester, coordenador do Comitê de Competitividade em Petróleo, Gás, Naval e Offshore da Fiergs, pondera que o pré-sal brasileiro ainda é um ótimo investimento: tem altas produtividade, taxa de acerto na perfuração e produtividade.
– Sabemos que é preciso ajustar a regra, reduzir o patamar atual, entre 60% e 65% de conteúdo nacional, mas não faz sentido abdicar de ter presença nesse segmento. Noruega, Inglaterra e Estados Unidos agem assim. No golfo do México, a tripulação das plataformas precisa ser americana.
Coester reconhece que as regras anteriores geraram custos altos e baixa produtividade, mas pondera que as ineficiências do Brasil não são exclusivas da indústria naval:
– É um problema estrutural.
Por isso, federações de indústrias de Rio, São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Minas, Santa Catarina e Rio Grande do Sul querem propor uma alternativa que dê perspectiva de continuidade de encomendas no segmento, ainda que com percentual menor e redução gradativa da proteção. Caso contrário, no caso de uma nova recuperação judicial, quem compraria dique seco e estaleiros? Como não é proprietária de todas as instalações que ocupa, a Ecovix não teria como pagar credores com a eventual venda. O Estaleiro Rio Grande 1, por exemplo, é da Petrobras e está arrendado à empresa. Soluções simples não resolvem problemas complexos.