Até no pequeno grupo que definiu as linhas gerais do pacote do Piratini há dúvidas sobre as chances de a Assembleia Legislativa aprovar a dispensa de plebiscito para privatizar CEEE, Sulgás, CRM e Cesa, as quatro empresas com controle estatal que o Piratini pensa em vender. Com exceção da Cesa, há um ponto em comum entre as companhias privatizáveis: são todas do setor de energia. Conforme um interlocutor do grupo, não passa de coincidência, baseada no critério que norteou as decisões, de sair de áreas nas quais o Estado não é essencial.
Há consenso, entre quem acompanha o processo, de que a Sulgás é a cereja do bolo – os passivos enfraquecem a CEEE e a falta de perspectivas de negócios, a CRM, cujo grande ativo é um contrato de fornecimento de carvão até 2024. Não existem avaliações prontas, mas a estimativa é de que a venda de 51% da Sulgás renderia entre R$ 600 milhões e R$ 1 bilhão – há quem considere o teto superdimensionado.
Outros 49% da distribuidora de gás são da Gaspetro (leia-se Petrobras), que por sua vez vendeu 49% à Mitsui. Uma das dificuldades, no caso da Sulgás, é o suprimento de seu combustível, uma vez que o atual contrato com a Bolívia tem validade até 2019, e não se sabe em que termos será – ou não – renovado. Não há expectativa de que a japonesa seja concorrente preferencial ao eventual negócio, mas há aposta na nacionalidade de interessados em CEEE e CRM: chinesa.
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O secretário de Minas e Energia, Lucar Redecker, prepara sua volta à Assembleia nos próximos dias, como havia combinado antes de assumir o cargo. A concentração de empresas da área entre as privatizáveis tem despertado interrogações sobre o futuro da pasta. À coluna, Redecker afirma que, uma vez que a Assembleia se defina em relação à proposta, está pronto para dar os passos seguintes: fazer a avaliação formal das empresas, para avançar na direção da privatização ou federalização.
Federalização da CEEE seria apenas uma etapa
O caso mais polêmico na Assembleia será a aceitação da dispensa de plebiscito para a CEEE, dados tanto o histórico quanto a presença da companhia no Estado. A hipótese de federalização, caso seja implementada, representaria apenas uma etapa. A estratégia seria repassar a estatal gaúcha de energia à Eletrobras para que fosse incluída no pacote de distribuidoras e outros negócios a serem privatizados pela estatal federal. O atual presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr, presidia a CPFL na época da compra da AES Sul e manifestou interesse em reunificar a rede de distribuição no Estado. Ao assumir a estatal federal de energia, passou a desenhar um plano de desinvestimento de ao menos R$ 5,5 bilhões.