Com sinais cada vez mais claros de que haverá maior abertura ao capital privado nas atividades até agora dominadas pela Petrobras, acentuam-se as interrogações sobre o futuro da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, e do polo petroquímico de Triunfo, hoje controlado pela Braskem.
Nos últimos dias, acordos e declarações da direção da estatal de petróleo abriram caminho para que analistas tentassem desenhar cenário do que vem pela frente. João Luiz Zuñeda, diretor da Maxiquim, confessa que, até há pouco, duvidava das intenções da Petrobras de vender um ativo tão valioso quanto a Braskem, mas mudou de ideia.
– Há dois tipos básicos de interessados: os fundos que buscam negócios em geral e grandes petroleiras que atuam também em petroquímica e são parceiras da Petrobras em exploração e produção, como Shell, ExxonMobil e Total – avalia, sem descartar empresas que ainda não estão no Brasil.
Leia mais
Investimentos em carvão no Rio Grande do Sul têm caminho difícil
Um sonho de R$ 6,5 bilhões em geração a carvão no Estado
Papel do BNDES não é socorrer Estados em dificuldades
Para essas companhias, faz todo sentido entrar no mercado de refino do país. Para lembrar: não existe monopólio legal desde 1997. Falta concorrência por domínio fático do mercado.
A entrada conjunta em refinarias e complexos petroquímicos, pondera Zuñeda, faz mais sentido onde essas atividades estão conectadas, caso do Rio Grande do Sul e de São Paulo. A operação combinada pode resolver problemas históricos, como a definição do preço da nafta, produzida nas refinarias e consumida como principal matéria-prima das centrais petroquímicas convencionais.
A definição da política de preços da Petrobras para os combustíveis – gasolina e diesel – pode ser lida como um passo desse processo. A expectativa é de que a estatal abra concorrência no próximo ano para vender participações em refinarias.
Quem teve a sensação de que já viu esse filme tem razão: a Refap teve uma fatia privada por uma década, entre 2000 e 2010. É verdade que a presença da espanhola Repsol – hoje vendida à chinesa Sinopec – não ajudou muito a refinaria gaúcha. Um dos principais argumentos para a recompra da participação de 30% – anunciada pelo então diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa – foi a dificuldade de aprovar um investimento bilionário nas instalações. Esperemos que não haja reprise.