Se contido na origem, o episódio de tráfico de influência ministerial poderia ter virado mais um. Ao tentar fazer de conta que nada havia acontecido, Michel Temer repetiu o erro de sua antecessora: levou a crise para dentro do Planalto. Com o Congresso corroendo sua esgarçada credibilidade, a semana terminou com Black Friday no poder e na economia.
A bolsa abriu em queda livre, oscilou e conseguiu livrar o nariz no fechamento, variando apenas 0,27%, apenas evitando o vermelho. Mas o dólar acusou o golpe: passou uma barreira ao fechar em R$ 3,41. O cenário de incerteza antecede a mãe de todas as turbulências, a delação da Odebrecht. E se segue ao vendaval da eleição de Donald Trump. O clima no mercado azedou. A responsabilidade não foi de Geddel Vieira Lima, agora ex-ministro.
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Executivo e Legislativo – entre o ensaio de anistia ao caixa 2 e a inclusão de parentes nas regras para suavizar multas para dinheiro irregular no Exterior – escolheram esquecer o palavrório anticorrupção que marcou a virada de governo. Se acreditaram que bastava recitar, em vez de praticar, quebraram a cara.
O mau humor não se restringe ao mercado financeiro. Políticos e empresários começam a questionar, ainda sem usar munição pesada, a blindagem ética e legal do governo. E se a desconfiança cresce, todos sabem: a recuperação já atrasada fica ainda mais lenta. É nesse clima rarefeito que começa a semana em que o Banco Central define o juro básico para fechar este ano e começar 2017. A inflação fez seu papel e até a bandeira verde voltou. Faltou Brasília dar sua contribuição para a retomada.