Embora a decisão da Petrobras de reduzir os preços dos combustíveis aumente, de fato, a expectactiva de corte no juro básico na reunião da próxima quarta-feira, o efeito dessa primeira etapa da nova política de preços, tanto no bolso do consumidor quanto na inflação, será pequena, quase irrisória.
Antes que se façam leituras mais estratégicas da medida, é bom prestar atenção nos números: a Petrobras não está ajudando a operar a política monetária do governo, está tratando de defender seu próprio território. Os números da Agência Nacional de Petróleo (ANP) mostram que o sobrepreço interno dos combustíveis vem incentivando as distribuidoras a trazer derivados do Exterior para abastecer o mercado interno (confira o gráfico abaixo).
Conforme a própria Petrobras, já houve perda de mercado de 4% na gasolina e ainda maior, de 14%, no diesel. Com dívida da US$ 120 bilhões, a maior entre as companhias do setor no mundo, a estatal precisa redefinir seu papel. Parte desse mau resultado veio do longo período em que os preços internos ficaram abaixo da referência internacional. Com a queda da cotação do petróleo, em janeiro os brasileiros chegaram a pagar mais de 50% acima do padrão global.
Atualmente, ainda há sobrepreço ao redor de 15% no mercado interno, o que mantém o espaço para a importação direta de gasolina e diesel. Diante dessa diferença, a estatal cortou os preços em 3%, em média (2,7% no diesel, 3,2% na gasolina). Em seu caminho de redefinição, a Petrobras está encolhendo – além de outros ativos, a BR está à venda, com interesse até da Lojas Americanas.
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Vai precisar calibrar com perícia uma redução de preços que elimine esse estímulo sem depauperar seu caixa – ao manter os preços internos altos diante da queda no Exterior, claramente fazia uma espécie de poupança. Para não seguir perdendo mercado, terá de fazer novas reduções de preço, que não estão descartadas.
O gradualismo, avisou a direção da empresa, será uma das características da nova política. Haverá revisões mensais para evitar que sobressaltos no mercado externo provoquem impacto drástico sobre os preços internos. Os brasileiros terão de se manter atentos às flutuações desse mercado inflamável tanto no conteúdo quanto na forma. Afetam o preço do petróleo desde testes nucleares na Coreia do Norte – como ocorreu no início de setembro – até conflitos bélicos e mesmo de palavras entre líderes mundiais.