Entre o final dos anos 1980 e o início da década seguinte, o Brasil viveu o pior dos mundos no mercado de trabalho. Combinavam-se duas década perdidas em crescimento e a tendência global da reengenharia, movimentos planetários focados em enxugamento e produtividade. Era tão difícil arrumar emprego que os brasileiros desistiam de tentar.
Essa atitude, chamada de ''desalento'', voltou a marcar as estatísticas. A parada no aumento do desemprego retoma o ingrediente. Como a pesquisa considera tanto a queda da população ocupada quanto o número de pessoas em busca de postos de trabalho, o dado final é afetado pelo desalento.
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Nas contas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), caso a força de trabalho tivesse crescido 1,8%, como nos trimestres anteriores – no terceiro, só avançou 0,8% –, o desemprego teria atingido 12,7%, muito acima dos 11,8% verificados pelo IBGE.
Algum sinal de alento vem dos dados de renda média. Não chega a ser melhora – é, outra vez, uma ''despiora''. Mas a redução do rendimento real (descontado o efeito da inflação que corrói a renda) foi de 2,1% em relação a igual período do ano anterior. Ainda é queda, mas é a metade da registrada no segundo trimestre (4,2%). A boa notícia é que interrompeu a trajetória de piora continuada iniciada ainda no terceiro trimestre de 2015.
É preciso lembrar que as demissões só começaram depois que o afundamento do país na recessão se tornou incontornável. Agora, serão necessários sinais mais concretos de retomada para que as contratações voltem.