A redução de 0,25 ponto percentual no juro básico, decidida no dia em que o Brasil soube que o setor de serviços recuou 1,6% em relação a julho, é um indicador do tamanho do problema do Banco Central (BC) e, principalmente, dos brasileiros. Associado aos sinais já mostrados por indústria (queda de 3,8%) e comércio (recuo de 0,6%), o tombo de ontem completa o circuito dos principais setores da economia que, passada a fase da alta nas expectativas, ressentem-se da famosa falta de "elementos dinamizadores adicionais" – mudanças para além da retomada na confiança.
Um corte mais ousado poderia ter se tornado esse fator. Na longa justificativa – ainda maior do que a estreia do textão do Comitê de Política Monetária (Copom) –, há três justificativas para a cautela unânime da diretoria do BC:
1. O processo de aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia é longo e envolve incertezas.
Comentário da coluna: depois da prisão de Eduardo Cunha, essa incerteza pode aumentar.
2. O período prolongado de inflação alta e expectativas acima da meta pode reforçar mecanismos inerciais e retardar a desinflação.
Comentário da coluna: o repasse da inflação passada de fato é um risco, mas com os indicadores de demanda voltando a se curvar para baixo, o espaço para reajustes é ainda menor.
3. Há sinais de pausa recente no processo de desinflação (...).
Comentário da coluna: a decisão do BC só vai fazer alguma diferença – se fizer – a partir de 2017, quando todas as projeções convergem para inflação na meta.
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Parte da decisão decorre do fato de o BC brasileiro mirar apenas na inflação. Na economia há dois anos em recessão profunda, com quedas sucessivas de 3%, a inflação ainda é um problema. E o juro, mesmo com o ligeiro desbaste de ontem, segue tendo a maior taxa real do mundo (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses), superior a 8%.
O que os manuais dizem – e os BCs fazem – em países que encaram quedas importantes no PIB é exatamente cortar o máximo possível a taxa básica, quando não completar as medidas de estímulo com incentivos adicionais. A melhor notícia da reunião do Copom de ontem não é o corte, é a promessa de "possível intensificação" da redução do custo do dinheiro.