Começou pela manhã, mas foi se firmando ao longo da terça-feira a percepção de que a mensagem na garrafa do Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central (BC) era uma promessa de resgate. Ao projetar a inflação para 2017 abaixo do centro da meta, em 4,4%, o BC reacendeu a expectativa de corte do juro básico já na reunião dos dias 18 e 19de outubro, com chance de dose extra no último encontro do ano, em 29 e 30 de novembro. Até agora, tanto os comunicados quanto as atas do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC recomendavam cautela. O documento apresentado ontem mudou a perspectiva dos analistas mais centrados.
– Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, mas até cautela, em excesso, pode fazer mal – avalia o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas.
E as expectativas não são pequenas: boa parte do mercado, Thadeu incluído, espera um corte de 0,5 ponto percentual em outubro e outro de igual tamanho no mês seguinte. O juro básico cairia de 14,25% para 13,25% ao ano. Ainda uma taxa elevada para um país em recessão há dois anos, mas um senhor alento para os planos de retomada. É onde se ancora a projeção de 1,3% de crescimento do PIB do BC para 2017.
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Embora o BC tenha retirado de suas projeções condicionantes relacionadas à aprovação das reformas, Thadeu pondera que os cortes serão tão mais firmes quanto a base de apoio do governo no Congresso se mostrar sólida. Os primeiros indicativos serão dados pelo avanço da tramitação da proposta de emenda constitucional (PEC) do teto das despesas.
– Não faz muito efeito a curto prazo, mas dá um sinal importante sobre a solidez do ajuste fiscal do governo. Se passar, será o melhor dos mundos – pondera.
O juro real – taxa nominal, descontada a inflação – no Brasil é altíssimo, pondera o ex-diretor do BC, entre 7% e 8%, ainda mais se comparado às maiores economias e seus juros negativos. Essa situação provoca inundação de recursos que pode ajudar a manter o dólar abaixo de R$ 3,30, o que ajudaria a inflação a seguir a trajetória projetada pelo BC. Caso a expectativa despertada pelo Relatório de Inflação do BC se confirme, o Brasil receberia um belo presente de Natal. A redução do juro no final do ano animaria tanto as compras das famílias quanto os projetos dos empresários. Poderia consolidar a expectativa de retomada no último trimestre.
– Atrasado, mas um presente – vê Thadeu.