Não é motivo para desacelerar a investigação, mas há necessidade de projetar os efeitos econômicos da Operação Greenfield. Assim como a Lava-Jato fragilizou empreiteiras e freou negócios, é possível que a nova frente de apuração tenha impacto nos setores financeiro e elétrico e até de alimentação, por conta do abalo na JBS, cujas ações recuaram mais de 12% na bolsa de São Paulo nos dois dias subsequentes à operação.
A investigação é um alívio para muitos funcionários de estatais que estavam sendo chamados a contribuir mais para reequilibrar os déficits bilionários de alguns dos maiores fundos de pensão do país. Até agora, a Greenfield deixou claro que havia gestão temerária – aquela que coloca em risco a saúde financeira da entidade –, mas não desenhou todo o caminho do destino de recursos eventualmente desviados.
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Só os quatro fundos investigados na Greenfield somam déficit total superior a R$ 50 bilhões. O número ajuda a entender o volume bloqueado pela operação, de R$ 8 bilhões, que até empalidece perto desse valor. As queixas de servidores e funcionários são de que as regras são muito flexíveis, considerado o tamanho dos patrimônios geridos pelas entidades fechadas de previdência complementar (EFPCs).
Os gestores de caixas-fortes como Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Postalis (Correios) tinham liberdade para até 5% do patrimônio sem autorização do conselho deliberativo. No caso da Previ, isso significava mais de R$ 8 bilhões, dinheiro sério em qualquer parte do mundo. Em alguns casos, houve mudança no estatuto para reduzir essa margem de manobra, mas mesmo reduzida a um décimo, ainda é muito.
Em todos os episódios anteriores de escândalos relacionados a fundos de pensão – e foram muitos, em décadas variadas –, houve promessa de regularização e mais vigilância. Como se percebe com clareza depois da Greenfield, nada aconteceu.
Os fundos de pensão representam um segmento importante da economia, tanto como fonte de financiamento quanto para manutenção do poder de compra de uma camada privilegiada de servidores. Quando ficam expostos a tal grau de subjetividade, a despeito de um retrospecto acidentado, torna-se óbvio que a baixa fiscalização não é disfuncional, ao contrário, tem uma função.
No detalhe, os fundos não investiram apenas em títulos argentinos e estatais venezuelanas. Aplicaram em bancos que quebraram e instituições de ensino que fecharam as portas. Lendo os relatórios, nada disso aparece.