A operação de busca e apreensão ocorreu nesta segunda-feira na sede do Grupo Bolognesi, em Porto Alegre, mas a fonte da dor de cabeça fica em São Paulo. Em 2012, a Bolognesi comprou a Multiner, empresa de investimentos em energia montada por ex-dirigentes da Eletrobras com recursos de um Fundo de Investimentos em Participações (FIP) formado por oito fundações, entre as quais Petros, Funcef e Postalis, algumas das investigadas na Greenfield.
Não era endereço errado: as atas de constituição da Bolognesi Energia, que sucedeu a Multiner, como outros documentos, estavam lá e foram entregues. A empresa não quer comentar até entender o alcance da investigação, mas interlocutores da direção garantiram que o alvo da investigação é a Multiner, especificamente no período entre 2007 e 2010. A Bolognesi Energia ainda capitaneia o projeto de uma termoelétrica em Rio Grande.
Da forma como atuam no Brasil – desde muito tempo –, os fundos de pensão funcionam como um dos elos do capitalismo de compadrio que marca o país. Os apelos por "abrir a caixa-preta" dessas entidades vêm de décadas. Assim como financiam projetos de desenvolvimento no país, os poderosos fundos de pensão e seus investimentos bilionários estão e estiveram envolvidos em quase todos os escândalos recentes.
Essenciais em qualquer democracia e toda economia, fundos de pensão de estatais têm o dever de investir mirando o melhor resultado para seus associados, os servidores. Existem em todos os países estruturados, com uma diferença essencial: a transparência. A prestação de contas é essencial porque movem bilhões e têm pesada contribuição de dinheiro público – o desconto dos funcionários é feito com a contrapartida do caixa dos empregadores, alimentado com recursos dos contribuintes.
Estudo divulgado no início deste ano situou os ativos dos fundos nacionais em US$ 180 bilhões, um acréscimo de US$ 45 bilhões desde 2005. O levantamento da Willis Towers Watson, consultoria global focada em gestão de risco e seguros, situou o Brasil em sexto lugar no aumento de volume de recursos de fundos de pensão em 19 países.
Agora, tentar desvendar com precisão o peso da participação dos fundos nas maiores empresas privadas nacionais é como entrar no labirinto de Minotauro sem o fio de Ariadne para sair. As participações societárias são embaladas em complexas subholdings, encobrindo o real peso do dinheiro público envolvido no processo.
Quase todo escândalo bilionário no Brasil tem na origem, no processo ou na conclusão algumas das entidades envolvidas na operação Greenfield da Polícia Federal. Privatização da Telebras? Havia manobras dos fundos. Operação Satiagraha? Presentes. Mensalão? Carimbaram o passaporte. Não podiam ter ficado fora da Lava-Jato. Depois de tantas tentativas de abrir a tal caixa-preta, é difícil não presumir que a atual corre o risco de repetir a história. Para alguém, a opacidade é conveniente.