No dia em que as atenções do mercado financeiro foram capturadas pela espetaculosa apresentação da denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros sete suspeitos, a bolsa de valores brasileira contrariou o movimento ainda de baixa das demais praças que costumam ser referência para o comportamento dos investidores. Foi uma pequena alta, de 0,42%, mas chamou atenção por contrastar com a forte queda do dia anterior e com o desânimo que marcou os negócios nos Estados Unidos.
Também chamou atenção a alta das ações da Petrobras diante do recuo dos preços do barril do petróleo no mercado internacional. No dia anterior, haviam caído quase 7%. Na quarta-feira marcada pela denúncia, os papéis preferenciais, mais negociados, recuperaram 0,76%.
Terá sido alívio? O mercado está em guerra com Lula, em particular, e com o PT, em geral, desde a eleição de 2014. A denúncia, seja avassaladora como querem os promotores, ou “ilusionista” como argumenta a defesa do ex-presidente, na prática equivale a uma arma de destruição em massa nas pretensões eleitorais de Lula. De quebra, enfraquece o discurso de “golpe” que começava a perturbar o Planalto.
Na economia, há sentimentos ambivalentes em relação ao avanço da Operação Lava-Jato. Por um lado, há uma torcida quase aberta para que Lula seja responsabilizado pelo conjunto da obra, agora batizado de “propinocracia” pela força-tarefa de Curitiba. Por outro, o avanço sem trégua desperta temores sobre qual será o destino final e quantas empresas e negócios ainda podem sucumbir diante dos investigadores.
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Há consenso de que a Lava-Jato tem peso considerável na crise econômica. Ao desidratar as empreiteiras, grandes investidoras no Brasil, ajudou a criar a cadeia de dívidas e inadimplência que afeta desde fornecedores dessas empresas até o sistema financeiro. Não se encontra, porém, uma voz que ouse se levantar para pedir moderação diante do maciço apoio popular às investigações.
Nos bastidores, porém, o suposto “acordão” para restringir as atividades de Polícia Federal, Ministério Público e Justiça de primeira instância não é totalmente rejeitado – claro, nunca publicamente. O barulho e a pesada adjetivação empregada na denúncia, fartamente antecipada, podem constranger os defensores de passos mais cautelosos da investigação.