Correção: embora a palavra ''omertà'' seja em dialeto napolitano, no seu sentido de lealdade e voto de silêncio é característica da máfia siciliana. A nota permaneceu com informação equivocada até as 16h50min.
As duas mais recentes fases da Operação Lava-Jato colocaram na mira dois ex-ministros da Fazenda dos governos Lula e Dilma. Não parece ser mero acaso. Na linha de comparação, a 32ª, na última quinta-feira, teve nome inspirado na ficção – Arquivo X –, e a 33ª, nesta segunda-feira, em uma palavra que frequenta os códigos da máfia siciliana, ''omertà''. É mais do que uma ilação. Embora seja diretamente vinculada ao voto de silêncio, a ''omertà'' é mais abrangente: refere-se a lealdade que deve permear os contatos da organização criminosa mais conhecida no mundo.
Na comparação, contrastam também os perfis dos ex-ministros presos – no caso de Mantega, liberado horas depois. Antonio Palocci não era um petista histórico como seu sucessor no cargo, e não havia se envolvido com formulação de políticas ou propostas até despontar como prefeito de Ribeirão Preto com uma gestão considerada, na época, mais pragmática. Ainda de forma diferente de Mantega, sempre foi visto como um operador eficiente, capaz até de suavizar a até então tensa relação com o empresariado.
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Também ao contrário de Mantega, cuja prisão surpreendeu até o PT, Palocci tem a carreira política permeada de escândalos. Começaram ainda em Ribeirão, onde foi acusado de cobrar ''mesadas'' de empresas que prestavam serviço à prefeitura. As denúncias seguiram no Ministério da Fazenda, com o episódio do caseiro Francenildo Costa que acabou inviabilizando sua permanência no governo três anos depois de assumir.
A despeito do escândalo, tornou-se um dos coordenadores de campanha de Dilma Rousseff, que chegou a indicá-lo para a chefia da Casa Civil. Desta vez, ficou pouco mais de seis meses, outra vez atingido por denúncias em torno de contratos suspeitos de superfaturamento. Na época, também tinha assento no conselho de administração da Petrobras, do qual se desligou na mesma época. A escolha do nome da fase da Lava-Jato é, no mínimo, curiosa. Como a prisão de Palocci é temporária, não poderá ser usada para pressioná-lo a fazer delação premiada. A força-tarefa de Curitiba parece indicar que não espera a quebra do voto de silêncio aludido no batismo desta fase.