Ainda antes do encerramento da Olimpíada do Rio 2016, é possível detectar, com base em dados, que o mau humor em relação aos jogos se adoçou. Conforme a PiniOn, especializada em pesquisa mobile, antes da competição 24% dos entrevistados achavam que seria positiva para o país e 52% discordavam. Agora, os percentuais não se inverteram, mas os que avaliam bem subiram para 36%, e os opositores encolheram para 33%. Mais ainda, 71% dos que responderam avaliam que a abertura despertou orgulho de ser brasileiro. Será o reverso da Copa do Mundo?
O Mundial de futebol teve obras de utilidade discutível, execução precária e cronograma ainda em aberto – algumas em Porto Alegre talvez fiquem prontas para a Copa da Rússia. Embora a Olimpíada tenha drenado recursos de outros segmentos, o orçamento menos descontrolado e problemas corrigidos a tempo, aliados a um desempenho digno dos atletas nacionais deixaram sabor menos amargo – advertência: esta coluna foi escrita antes da final do futebol masculino. A relativa melhora nos índices de confiança de consumidores e empresários casou com a volta da vontade de cantar o Hino Nacional.
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A história da grande crise brasileira da segunda década do século 21, encravada entre dois eventos esportivos internacionais, ainda vai render. Começou quase junto com o primeiro, seria um alívio se terminasse pouco demais do segundo. Como dizem os economistas desde que tudo isso se iniciou, retomar a confiança e a crença no país é o primeiro passo. Mas não de uma corrida de 100 metros, trata-se de uma maratona.
Na sexta-feira, o governo anunciou a nova queda de 5,8% na arrecadação federal em julho. A profundidade do buraco diminuiu – de janeiro a junho, o tombo acumulado era de maior, de 7,33%. Mas como os sinais de ensaio de saída da depressão econômica começaram há pelo menos quatro meses – ainda antes da posse do governo interino, portanto – não falta quem se exaspere.
Mais do que a escassa melhora na mobilidade e na convivência urbana na cidade do Rio de Janeiro, não custa ter a ambição de que o legado da Olimpíada vá além de obras caras e, outra vez, discutíveis. Se a cerimônia de encerramento e a partida da “família olímpica” não comprometerem, pode ser a largada da corrida de obstáculos com chegada na retomada da autoestima.