Conforme a Polícia Federal, a 33ª fase da Operação Lava-Jato, na manhã desta terça-feira, foi batizada de Resta Um pelo fato de o alvo, a Construtora Queiroz Galvão, ser a última grande empresa investigada individualmente por formação de cartel para obter contratos com a Petrobras. Para a história da empresa no Estado, o nome também pode ter outras interpretações. A Queiroz Galvão é a última empresa que restou do consórcio que começou a implantar a construção naval voltada ao setor de petróleo no Estado, em meados dos anos 2000.
As atividades de conversão de cascos de navio em plataformas para exploração de petróleo começaram em Rio Grande com o consórcio formado por Queiroz Galvão, UTC e Iesa Óleo e Gás, que ganhou o acrônimo Quip por conta das iniciais desses três nomes. Em 2013, a UTC saiu da sociedade, que mudou de nome para QGI – Queiroz Galvão e Iesa Óleo e Gás, cuja holding, a Inepar, entrou em recuperação judicial no final de 2014. Restou uma, a Queiroz Galvão, das pioneiras da montagem de plataformas que fez a Metade Sul, com dificuldades históricas em encontrar uma vocação econômica, sonhar com a redenção.
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A chegada do primeiro casco de navio convertido no estaleiro da Quip – que só mais tarde recebeu o nome de Honório Bicalho –, acabou dando o tom bairrista marcante no Rio Grande do Sul. O casco do antigo Settebello (nome original do navio), aportou na cidade portuária no dia 20 de setembro, o que gerou imagens como a mostrada acima. Era o Estado entrando em uma nova era econômica, com a P-53, a primeira plataforma montada em solo gaúcho, que opera desde 2008 no campo Marlim Leste, na Bacia de Campos.
Com a exposição pública do propinoduto que irrigava obras e contratos, empresas definharam, como a Iesa Óleo e Gás, outras tiveram de sobreviver sem o mecanismo dos aditivos, como a Queiroz Galvão. Em menos de uma década, Rio Grande conheceu tanto as dores do crescimento rápido – cidade lotada, aumento do preço de aluguéis, a perda do sossego interiorano no litoral – quanto as do esvaziamento – desemprego, desmonte das estruturas de apoio
No Estado, a Queiroz Galvão, individualmente, também conduziu – e ainda conduz – grandes obras federais, como a duplicação da BR-101. Ainda inacabada está a construção da segunda ponte do Guaíba, que recebeu em julho a liberação extraordinária de R$ 100 milhões, por parte do governo interino de Michel Temer, para que não parasse. Nesse caso, atua com a EGT Construção, mas a QG tem 97% do consórcio.