Contemplar o gráfico acima ajuda a entender o buraco em que a economia brasileira mergulhou nos últimos anos, depois do anúncio do maior rombo do governo central nos sete primeiros meses do ano (R$ 51 bilhões). Os dados mostram a evolução do resultado do saldo, positivo ou negativo, da diferença entre receitas e despesas de todo o setor público (União, Estados e municípios). Apontam tanto o esforço anticíclico de 2009, com aumento de gastos para conter os reflexos da crise global no Brasil, quanto o agravamento a partir de 2015.
Todas as esferas da gestão pública enfrentam dificuldades para manter algum equilíbrio, como evidencia a discussão, aparentemente a sério, sobre a hipótese de o Estado do Rio de Janeiro decretar falência até o final do ano.
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A expressão “contabilidade criativa” começou a ganhar força no noticiário econômico ainda em 2012. Hoje se sabe que, no final de 2013, técnicos do Tesouro advertiram para o inquietante passivo a descoberto, que expunha em dois anos o país ao rebaixamento da nota de risco de crédito, com perda do grau de investimento conquistado a duras penas. Em 2014, a meta de superávit primário (sobra de recursos para pagar o juro da dívida) foi reduzida duas vezes.
Em 2015, com a exposição das "pedaladas fiscais", o governo sucumbiu à necessidade de fazer o ajuste fiscal e chamou Joaquim Levy para executar a tarefa. O caminho foi bloqueado, de um lado, pelas hesitações do governo Dilma e, de outro, pela pauta-bomba armada por Eduardo Cunha. Sem avanço claro, o primeiro rebaixamento veio no final do ano e foi confirmado no início deste ano. A crônica anunciada da desorganização das contas públicas que deve culminar, nesta quarta-feira, com a cassação da presidente Dilma Rousseff. Pedaladas e decretos são meros argumentos legais. Se o Congresso teve parte na crise desatada no ano passado, agora terá de ser parte da solução.