Como uma peça ensaiada, agosto vai cumprir mais uma vez seu papel na história do Brasil como mês de desfechos de mandatos presidenciais com diferentes graus de turbulência. O episódio do impeachment de Dilma Rousseff será no futuro comparado ao suicídio de Getúlio Vargas e à renúncia de Jânio Quadros.
Ao contrário dos dois casos, porém, é um fim de capítulo anunciado e precificado. A perda acumulada na bolsa, de 2,34% na semana até ontem, não é tensão pré-julgamento. Embora o mercado não se distraia da votação decisiva que começa amanhã em Brasília, está com os radares ligados no Exterior nos últimos dias.
A informação mais importante do resultado, para o mercado e os empresários, será o número de votos favoráveis ao afastamento definitivo de Dilma. É o dado que consolidará – ou não – a sustentação política para aprovar os projetos do substituto. Apesar de vários sinais de inflexão do rumo da economia, que desde 2014 não fazia mais do que afundar, o país está longe de qualquer segurança sobre a conclusão da Ponte para o Futuro que foi vendida pelo comando do PMDB, que assume o Planalto.
Leia mais
Dificuldades permanecerão após o impeachment, diz Afif Domingos
Carlos Kawall diz o que esperar da economia no pós-impeachment
Planalto brinca com fogo nas concessões de reajustes salariais
A voltagem dos próximos sete dias – a previsão é de que a votação final ocorra entre os dias 30 e 31, terça e quarta da próxima semana – será alta. E a julgar pelos sinais mais recentes, não vai se reduzir substancialmente quando entrar setembro.
As primeiras declarações, medidas e atitudes do governo substituto serão decisivas para avaliar se a entrada da primavera vai assinalar os tais ''brotos verdes'' da recuperação – expressão ressuscitada por Ben Bernanke em 2009, quando era presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos). Passaram-se sete anos e os americanos seguem discutindo se a planta que nasceu dos brotos semeados por Bernanke ganhou seiva suficiente para parar em pé.
No esforço para convencer congressistas da necessidade de aprovar o teto das despesas, o ministro interino do Planejamento, Dyogo Oliveira, recorreu ontem à comparação com outro país, a Grécia, usada como exemplo de economias que “colapsaram” com a falta de controle das finanças públicas. Mudanças de governo, da forma como ocorrem neste momento no Brasil, não são naturais como a troca de estações. Será preciso provar que têm sentido.