A decisão não surpreendeu ninguém. Com nível de inflação ora desacelerando, ora com o dragão mostrando os dentes, não dava mesmo para cortar o juro básico neste momento. Mas a primeira reunião comandada por Ilan Goldfajn mostrou novos ares no Banco Central (BC). Tudo começou com a mudança de horário, anunciada semanas antes. Para quê, afinal, ficávamos todos até 20h ou 21h horas aguardando uma definição muitas vezes antecipada pelo mercado?
A nova fase se seguiu com a decisão de abrir o primeiro dia de reuniões para fotos – um pouco de transparência faz bem a todos. Mas a melhor surpresa foi guardada para esta quarta-feira. Pela manhã, o BC avisou que faria “mudanças no formato” do comunicado divulgado depois da reunião e da ata publicada uma semana depois. Acendeu a expectativa de que a reformulação contemplaria a lingua portuguesa, não aquele idioma hermético ao qual alguns mortais prestam reverência, mas inútil para a maioria, o banco-centralês. E não é que foi assim? Se não é 100% português claro, o comunicado se aproxima disso.
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Alguns exemplos de frases: “No curto prazo, o ambiente encontra-se relativamente benigno para as economias emergentes.” Bastante compreensível. Outra? “No entanto, a dinâmica da recuperação da economia global permanece frágil, com incertezas quanto ao seu crescimento.” Uma bênção.
No outro lado do front, houve bate-cabeça básico. O ministro-chefe da Casa Civil, Elisou Padilha “esqueceu” que não se fala em juro no Planalto e disse, no dia da decisão do BC, que o presidente Michel Temer veria “com bons olhos” uma redução na taxa de juro. Temer e todas as torcidas. Mas não era o melhor dia nem a melhor forma de falar sobre o tema. O próprio presidente interino teve de se apressar para publicar no Twitter uma declaração em que reitera que a instituição tem “total autonomia” para decidir sobre o juro.
Na próxima terça-feira, a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) poderá dar sinais de quando começa a esperada poda na Selic. A próxima reunião será em 30 e 31 de agosto. Mas a grande expectativa é de que os cortes venham apenas com a primavera, em 19 de outubro.